São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2001

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Banda paulistana mostra seu "MTV ao Vivo" em São Paulo e tem seus dois primeiros LPs relançados

O show do disco dos show

Ira! segue em fase de covers e "ao vivo"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Vivendo e não aprendendo? Após amargar uma década de desinteresse crescente por parte de público e gravadoras, em 2001 a banda paulistana Ira! volta ao centro. De quebra, tem de retomar hábitos que o radicalismo de juventude havia repudiado.
Hoje e amanhã, o quarteto ganha um dos maiores palcos de São Paulo, com o show do disco do show que a MTV gravou -ao vivo, embora não acústico. "MTV ao Vivo" em CD já vendeu 100 mil cópias. Virou fita de vídeo e DVD.
Com farto histórico de desavenças com a ex-gravadora Warner, hoje a banda parece em paz com a Abril Music, enquanto vê a antiga casa relançar em CD, em edições cuidadosas, seus dois primeiros discos, "Mudança de Comportamento" (85) e "Vivendo e Não Aprendendo" (86).
O responsável pelas reedições (e também de "Amigos Invisíveis", 89, primeiro solo do guitarrista e letrista Edgard Scandurra, 39) é Charles Gavin, ex-membro do grupo e até hoje baterista dos Titãs, banda-prima/rival do Ira!.
Moços que brigavam nos 80 quando tinham de ir ao Chacrinha gastaram parte da terça-feira passada na TV Record, no programa de Fábio Jr.. Se no Rock in Rio, em janeiro, cantaram ao vivo, no Fábio era playback mesmo.
Mudança de comportamento? "É a segunda vez que fazemos o Fábio Jr.", explica o vocalista Nasi, 39. "Desta vez é só cantar, da outra tivemos que sentar lá, imitar animal. Não vou dizer que me anima, não gosto de fazer TV. Mas faço, são os ossos do ofício."
O baterista (e ex-Titãs) André Jung, 40, é mais tênue: "É playback, mas The Who fazia isso na TV, é assim mesmo. O problema era mais aonde ir. Íamos ao Chacrinha, ao Bolinha, à Xuxa, e o resultado comercial era nulo. Éramos herméticos, vítimas da nossa própria arrogância. Demorou a cair a ficha, gostávamos de nos achar uma ilha de excelência. Hoje iríamos no Gugu, com certeza".
Scandurra, ao lembrar de "Vivendo e Não Aprendendo", evidencia sem querer as mudanças de atitude do Ira! de lá para cá:
"Incluir "Gritos na Multidão" e "Pobre Paulista" em versões ao vivo naquele disco foi uma manobra nossa. Nos arrepiávamos em ter que fazer playback em programa de TV. Achamos que as palmas iam impedir o playback. Hoje estamos fazendo alguns playbacks do CD ao vivo mesmo (ri)".
"O Ira! começou fazendo punk rock. Três anos depois, uma garota lhe dá um fora e você faz uma música de amor. A coisa vai ficando mais pop. Uma gravadora o contrata, você tem música na novela. As bandas que eu gosto também têm essas fases", divaga.
Os quatro iras celebram a iniciativa de Gavin em remasterizar seus LPs e enriquecê-los com faixas-bônus. "Foi um trabalho maravilhoso, parece que ele voltou a ser da banda por uns momentos. É legal lembrar que já estávamos dentro do estúdio quando grande parte dos nossos fãs de hoje nem havia nascido", diz Edgard.
Justificam por que não colocaram mão na massa, eles mesmos, para que os relançamentos acontecessem: "Na verdade, nunca fomos de ter muito contato com gravadora. Agora eles percebem o momento legal da banda e tomam carona", afirma Edgard.
"Nossa relação com a Warner já era péssima quando saímos. O projeto do Charles foi o primeiro momento em que a gravadora teve uma atitude decente com a gente", justifica Nasi. "Caímos em desgraça na Warner, não havia o que fazer", diz o baixista Ricardo Gaspa, 42.
Passados um disco de covers e outro cheio de sucessos regravados, preparam-se para o embate de manter a maré cheia com um novo trabalho de estúdio e de inéditas. Falam das perspectivas.
Nasi: "Estamos superanimados com o disco inédito. Os fãs cobram a gente, muito por causa dos Titãs, perguntam se vamos ficar iguais a eles".
Edgard: "O novo disco vai poder botar o Ira! nos trilhos de novo, no sentido de que teremos que voltar a usar nosso discurso em músicas inéditas".
Gaspa: "Queremos lançar um disco de inéditas para mostrar que estamos vivos, com vontade, com audácia, que é uma das marcas da banda. O Ira! é imprevisível, ninguém sabe o que vai ser".
André: "Cada um vai tendo idéias muito particulares, na hora de se reunir e chegar a um consenso é difícil. Acho que teremos que ser muito mais provocativos para nos satisfazer agora".
Vivendo e aprendendo?


Show: Ira!
Onde: Directv Music Hall (av. dos Jamaris, 213, tel. 0/xx/11/3177-3663)
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Quanto: R$ 25






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