Autor Dany Laferrière participa da pré-estréia de "Em Direção ao Sul", adaptação de seu romance que traz uma metáfora do Haiti

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Autor de "Como Fazer Amor com um Negro Sem Se Cansar", adaptado para o cinema por Jacques Benoît em 1989, o haitiano Dany Laferrière está em São Paulo a convite do Consulado da França e participa da pré-estréia, às 20h, no Reserva Cultural, de outra versão de obra sua, "Em Direção ao Sul", dirigido por Laurent Cantet ("Recursos Humanos"). Antes, às 18h, Laferrière debate com Carla Camurati, João Falcão e Roberto Bomtempo a relação entre cinema e literatura, na Bienal.
Laferrière defende que o cinema nasceu do romance, que caminharam juntos antes de o primeiro se tornar "uma arte maior", com suas próprias mitologia e estética.
"Quanto a mim, eu fazia cinema dentro de meus romances, construídos como filmes", diz Laferière em entrevista à Folha. "São artes conexas. [O cinema] é uma maneira de contar histórias para as crianças de hoje."
Nascido em 1953, em Porto Príncipe, Laferrière deixou o país em 1976, exilando-se no Canadá, por conta das ligações políticas da família: ele na verdade se chama Windsor Klebert Laferrière, mesmo nome do pai, ex-prefeito da capital haitiana e opositor de François Duvalier [presidente do Haiti de 1957 a 1971].
[ ] Sobre o país, em guerra civil, Laferrière fala que a ocupação do exército brasileiro pode ser eficaz somente em Porto Príncipe: "Ela é bem recebida pela população haitiana que sempre viu no Brasil um povo irmão. Nós não ocupamos nosso amigos, nós o ajudamos a resolver um problema que ele não consegue resolver sozinho".
"Em Direção ao Sul" é a história de três norte-americanas furiosas porque, aos 50, ninguém mais se interessa por elas. O trio ruma ao Haiti, nos anos 80, onde confunde sentimentos e sensações, numa relação que deveria ser apenas comercial com os jovens do país.
"O filme vai durar, pois não é sempre que tratamos um tema desses de maneira tão séria e elegante. As atrizes são formidáveis, e o jovem Legbar [Menothy César] me faz pensar em Sidney Poitier no início de carreira. Um cavalo rebelde, que não aceita abaixar sua cabeça. Para mim, uma bela metáfora do Haiti."