SHIN OLIVA SUZUKI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dificuldades para achar a alma gêmea estão em qualquer lugar no mundo, inclusive por aqui, vide o sucesso das agências de casamento e o interesse que suscita, além do pitoresco de suas situações, um programa de TV como "Casamento à Moda Antiga".
Mas na China -esse país atualmente tão associado a superlativos- o problema assume proporções descomunais, e é especificamente para os homens que o quadro beira o trágico.
Tema principal do documentário da BBC "China - Uma Geração em Perigo", exibido hoje pelo GNT, a situação é a seguinte para o chinês que pretende arranjar uma noiva: em 15 anos o número de homens irá superar o de mulheres em 40 milhões -o que dá um Estado de São Paulo inteiro.
Isso é conseqüência da imposição governamental de 25 anos atrás de limitar a apenas um o número de filhos que cada família poderia ter. E como a tradição chinesa valoriza o varão, garotas recém-nascidas eram mortas sumariamente ou abandonadas ao modo do surto recente ocorrido em algumas cidades brasileiras.
Para dar exemplo do drama, o programa mostra o périplo de Xinhau Lu, 24, morador da zona rural. Como sabe que o destino dificilmente irá comparecer, o rapaz parte para Pequim com o objetivo de tentar outra sorte.
Mas lá as condições são ainda mais complicadas; as mulheres desfrutam de uma atmosfera menos conservadora e também da imensidão de opções para escolher um par amoroso e, assim, já não ir para o altar tão cedo.
Outro efeito colateral da medida imposta por Pequim foi o seqüestro brutal de meninas com o objetivo de vendê-las a peso de ouro como noivas a desesperados homens chineses. Como ocorreu em outras situações, a tentativa de controle do governo fez surgirem soluções de "porta dos fundos" -algo já cultural na China- e ações inescrupulosas em que não há gênero que saia em vantagem sobre outro.