CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Os criadores de Hollywood sempre foram exímios em imaginar situações de catástrofe, apocalipse e destruição. Com o 11 de Setembro e o pesadelo transformado em realidade, o imaginário pós-destruição tornou-se referência em algumas produções. A série de TV "Jericho" segue essa vertente.
O título vem do nome de uma cidade típica agrária do interior no Kansas, meio-oeste americano. Um belo dia, seus habitantes vêem ao longe um imenso cogumelo atômico e descobrem aos poucos que um maciço ataque nuclear destruiu não só a vizinha Denver como algumas de outras grandes metrópoles do país.
A partir de então, a questão da sobrevivência vai pôr em crise os laços comunitários e lançar seus habitantes em situações de vida ou morte.
Como em "Lost", talvez a mais bem-sucedida ficção pós-desastre dos últimos tempos, as relações humanas e os personagens submetidos a constantes desafios refletem a variedade e a inconstância da moral e de temas como coragem e solidariedade.
"Lost", contudo, tira partido do fantástico, dos mistérios progressivos, dos enigmas ameaçadores que cercam os sobreviventes do desastre aéreo.
Ao contrário, "Jericho" traz um desenvolvimento mais conservador, concentrando-se em difundir valores humanistas e na crença na comunidade como núcleo do progresso e da estabilidade.
Logo após as imagens apocalípticas do primeiro episódio, o drama entra num ramerrame de famílias reunidas e namoricos, e a ação entra em declínio.
Não à toa é a família do protagonista que serve de apoio para o desenvolvimento dramático, com o pai prefeito, a mãe sempre compreensiva e os irmãos paus-para-toda-obra na prática do heroísmo.
A predominância dos bonzinhos na história atrapalha que os desdobramentos dramáticos ganhem maior interesse, sobretudo pela pouca empatia do protagonista Skeet Urich, o típico bonitinho sem graça.
Tais problemas levaram a série a um desempenho decrescente na audiência, o que determinou que a CBS cogitasse o cancelamento de uma segunda temporada.
Mas uma campanha empreendida por seus fãs convenceu a rede a encomendar novos sete episódios, atualmente em exibição nos EUA.