São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Personagem ganha recorte feminista

Quantidade de efeitos dificultou trabalho dos atores e fez com que o "Alice" ficasse pronto só há duas semanas da estreia

Aliar um clássico da literatura a um diretor cultuado e ao apelo do 3D foi receita da Disney para obter explosão de bilheteria


DA ENVIADA A LONDRES

Pegue um clássico da literatura mundial de 150 anos. Empreste-o a um dos diretores mais cultuados e esquisitos de Hollywood. Empacote tudo com o que há de mais novo em tecnologia no cinema, o 3D.
A receita da Disney para recriar "Alice no País das Maravilhas" só não é tão previsível porque o diretor em questão é Tim Burton. Sua lente transcendeu a obra de Lewis Carroll como numa viagem lisérgica, fundindo dois livros num só filme: "Aventuras de Alice no País das Maravilhas" (1865) e "Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá" (1872).
A obra de Carroll -codinome adotado pelo reverendo e professor de matemática Charles Lutwidge Dodgson- é uma das mais famosas, citadas e traduzidas do mundo. A história foi criada para uma garotinha de 11 anos, Alice Liddell, por quem Carroll nutria carinho tão especial que chegou a levantar suspeitas de pedofilia.
Repleta de símbolos, a obra moldou o imaginário cultural, do surrealismo à psicodelia.
Para dar conta desse cânone sem comprometer sua fama de ousado, Burton optou por transportar Alice para seus 19 anos. Com isso, deu à personagem recorte feminista: uma jovem sonhadora de espírito livre enredada pela rigidez dos costumes da Inglaterra vitoriana.
O filme começa quando Alice é pedida em casamento. Desconcertada, ela foge da resposta correndo atrás do Coelho Branco, que viu no jardim. Na perseguição, cai no buraco que a leva ao Mundo Subterrâneo ("Underland"), o mesmo que visitou ainda criança, quando achou que seu nome era País das Maravilhas ("Wonderland").
Ali, suas aventuras são uma alegoria da busca por coragem e identidade, que culminam numa batalha em que Alice encarna uma espécie de Joana D'Arc.
Burton investiu o papel principal na novata Mia Wasikowska, australiana que abandonou o balé para se tornar atriz em 2006. Também se cercou de sua patota: Johnny Depp, como o Chapeleiro Maluco, e sua mulher, Helena Bonhan Carter, com quem vive em Londres em duas casas conjugadas (cada um em uma delas, diga-se) e tem dois filhos pequenos.
O grande desafio do elenco de "Alice" foi um constante exercício de imaginação no set. Isso porque, para criar cenários alucinantes e personagens animados em pós-produção, os atores tinham de contracenar com objetos inanimados, como uma bola de tênis ou um naco de fita adesiva, imersos em um ambiente 100% verde, preenchido depois em computador.
"Não foi fácil. Aquele verde o tempo todo começou a deixar a equipe deprimida", confessou Carter. "Tim passou a usar óculos de lentes azuis para aturar um mundo monocromático."
A profusão de efeitos especiais fez com que o filme ficasse pronto apenas duas semanas antes de sua estreia. Tamanho espetáculo para os olhos implica, no entanto, um risco crucial: o de não falar tanto aos corações de quem os vê. (FERNANDA MENA)

Leia a íntegra da entrevista com Burton em

www.folha.com.br/ilustradanocinema


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