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ARTES PLÁSTICAS
Bourdelle quer sair da sombra de Rodin
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
A vida de Emile-Antoine Bourdelle (1861-1929) não foi das mais
fáceis. De origem humilde, filho
de um marceneiro-entalhador, o
escultor francês teve que ganhar a
vida cedo, para então poder sair de
sua cidade natal, Montalban, e
tentar conquistar Paris.
Foi um grande escultor e poderia
ter se tornado ainda maior, não tivesse -azar dos azares- sido ele
contemporâneo de Rodin e sofrido, como poucos, a angústia da
influência.
Mesmo com a força das expressões atormentadas de suas criações e com a excelência de seus retratos, não conseguiu escapar das
comparações que, com justiça, favoreciam Rodin.
A Pinacoteca tenta, a partir de
hoje, tirar o escultor dessa inevitável sombra. Apresenta 53 esculturas em bronze
provenientes
do acervo do
museu Bourdelle (Paris) e
da coleção de
Rhodia Dufet
Bourdelle. As
obras cobrem
o período entre
1883 e 1929.
"Fica sempre
difícil tratar
das qualidades
de Bourdelle
relacionando-o a Rodin,
mas podemos
dizer que ele
estava na origem de uma
verdadeira revolução na escultura moderna,
que gerou nomes como Brancusi e
Picasso", disse a curadora da mostra, Veronique Gautherin. "Mas
ele sabia que deveria se colocar em
relação a essa influência que o
oprimia, senão seria condenado a
ser eternamente um "sub-Rodin'",
complementou.
Bourdelle viveu atormentado na
confluência dos dois séculos. Melancólico, viu o declínio da tradição em favor da modernidade. Era
um amante da mitologia grega e
da Antiguidade clássica, mas também flertava com os simbolistas,
que representam um momento
anterior à abstração.
Na mitologia grega, não se ateve
apenas ao seu rico imaginário, repleto de centauros, minotauros,
faunos, heróis, ninfas e divindades, representados em alguns trabalhos na mostra, como "Hércules
e Caco", "Fauna e Cabras" e "Centauro Morrendo".
"Bourdelle sempre se colocou
em relação aos problemas que se
apresentavam. Sua "Cabeça de
Apolo', por exemplo, tem uma base cubista. Naquele momento, deixa de ser apenas uma sustentação
para o trabalho e passa a fazer parte da obra", disse a curadora.
Bourdelle também se interessava
pelo diálogo estabelecido pelos
gregos entre escultura e a arquitetura. Nos relevos criados para o
teatro de Champs-Elysées
(1910/1913), em que desenvolveu
temas como "Meditação de Apolo", "Eros e Psiquê", "Leda e
Zeus", "Queda de Ícaro" e "Orfeu
e Eurídice", Bourdelle abandonou
a monumentalidade decorativa
comum à época para optar por algo que se inseria no contexto arquitetônico, como ocorria com os
frontões na antiga Grécia.
Com ele, a escultura deixa de ser
um simples adorno para a arquitetura. Não são, certamente, questões de um gênio, mas tentativas
de aceitar a modernidade sem perder contato com a tradição, que já
lhe escapa entre os dedos.
Mostra: Emile-Antoine Bourdelle (53
esculturas em bronze)
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz,
nş 2, tel. 011/227-6329)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de terça a domingo, das 10h às
18h
Quanto: R$ 5 e R$ 2 (estudantes). Menores
de 7 anos e maiores de 65 anos não pagam
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