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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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GERAÇÃO FAZ-TUDO

Núcleos coletivos tentam relativizar rivalidade entre cariocas e paulistas e questionam indústria

Crise e tecnologia impulsionam os novos

DA REPORTAGEM LOCAL

No núcleo de sua constituição, os novos "coletivos" pop apontam dois elementos: as facilidades tecnológicas de produzir música em computadores caseiros e a crise na indústria fonográfica.
"O Instituto é fruto dessa crise, embora só tenhamos percebido isso depois do lançamento do disco coletivo "Coleção Nacional" (2002)", diz Daniel Ganja Man, 24. "Não lucramos praticamente nada, mas o que temos feito é um investimento, uma vitrine."
O afrouxamento da tensão entre as produções musicais carioca e paulista é outro ponto característico da "geração faz-tudo". O paulistano Instituto já faz parcerias com o niteroiense Quinto Andar; Kassin diz planejar um disco em parceria com Ganja Man.
Segundo Ganja Man, a histórica rivalidade foi em parte fomentada involuntariamente pela experiência paulistana da Trama. "Eles fazem um trabalho maravilhoso, mas ficou a impressão de ser a gravadora dos filhos da Elis Regina. Foi interpretada pelos cariocas como um clubinho de filhos."
Domenico, 30, aponta distinções entre lá e cá: "Não há atrito entre nós, mas a produção do Rio tem um humor que não é muito compreendido em São Paulo, que se leva mais a sério".
Kassin, 29, demonstra sintonia com o núcleo paulista no que diz respeito ao desinteresse pela grande indústria. "O problema da crise começa nas próprias gravadoras. A produção é cara, o marketing é caro, os salários são caros, o jabá é caro, o CD é caro para o consumidor", critica, afirmando que entende essa lógica comercial e a distância que ela implica de novidades menos assimiláveis.
Ganja Man lembra que já fez produções individuais (Planet Hemp, Xis) para gravadoras grandes, mas diz não acreditar numa assimilação futura dos novos produtores pelas grandes gravadoras: "Não fazemos um lance comercial para elas. Artistas mais conhecidos com quem temos contato estão abandonado as gravadoras, ou sendo abandonados".
Os "faz-tudo" são unânimes em relação a suas preocupações centrais: arte, sonoridade, autonomia. Filho de Ivor Lancellotti (compositor de predileção de sambistas como Clara Nunes e João Nogueira), Domenico centra "Sincerely Hot" na sonoridade, pesquisada de influências como a fase pós-bossa de Marcos Valle e João Donato e trilhas setentistas de cinema e novelas globais.
"O principal é a sonoridade deles, e não o conteúdo, que não chegava aos pés dos grandes compositores", opina Domenico, parecendo se identificar com isso.
"Diretor artístico de gravadora vai sempre pensar em lucro, nosso projeto é o oposto, é de autonomia", explica Ganja Man, diretor artístico de si próprio.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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