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GERAÇÃO FAZ-TUDO
Núcleos coletivos tentam relativizar rivalidade entre cariocas e paulistas e questionam indústria
Crise e tecnologia impulsionam os novos
DA REPORTAGEM LOCAL
No núcleo de sua constituição,
os novos "coletivos" pop apontam dois elementos: as facilidades
tecnológicas de produzir música
em computadores caseiros e a crise na indústria fonográfica.
"O Instituto é fruto dessa crise,
embora só tenhamos percebido
isso depois do lançamento do disco coletivo "Coleção Nacional"
(2002)", diz Daniel Ganja Man,
24. "Não lucramos praticamente
nada, mas o que temos feito é um
investimento, uma vitrine."
O afrouxamento da tensão entre as produções musicais carioca
e paulista é outro ponto característico da "geração faz-tudo". O
paulistano Instituto já faz parcerias com o niteroiense Quinto Andar; Kassin diz planejar um disco
em parceria com Ganja Man.
Segundo Ganja Man, a histórica
rivalidade foi em parte fomentada
involuntariamente pela experiência paulistana da Trama. "Eles fazem um trabalho maravilhoso,
mas ficou a impressão de ser a
gravadora dos filhos da Elis Regina. Foi interpretada pelos cariocas como um clubinho de filhos."
Domenico, 30, aponta distinções entre lá e cá: "Não há atrito
entre nós, mas a produção do Rio
tem um humor que não é muito
compreendido em São Paulo, que
se leva mais a sério".
Kassin, 29, demonstra sintonia
com o núcleo paulista no que diz
respeito ao desinteresse pela
grande indústria. "O problema da
crise começa nas próprias gravadoras. A produção é cara, o marketing é caro, os salários são caros, o jabá é caro, o CD é caro para
o consumidor", critica, afirmando que entende essa lógica comercial e a distância que ela implica
de novidades menos assimiláveis.
Ganja Man lembra que já fez
produções individuais (Planet
Hemp, Xis) para gravadoras
grandes, mas diz não acreditar
numa assimilação futura dos novos produtores pelas grandes gravadoras: "Não fazemos um lance
comercial para elas. Artistas mais
conhecidos com quem temos
contato estão abandonado as gravadoras, ou sendo abandonados".
Os "faz-tudo" são unânimes em
relação a suas preocupações centrais: arte, sonoridade, autonomia. Filho de Ivor Lancellotti
(compositor de predileção de
sambistas como Clara Nunes e
João Nogueira), Domenico centra
"Sincerely Hot" na sonoridade,
pesquisada de influências como a
fase pós-bossa de Marcos Valle e
João Donato e trilhas setentistas
de cinema e novelas globais.
"O principal é a sonoridade deles, e não o conteúdo, que não
chegava aos pés dos grandes compositores", opina Domenico, parecendo se identificar com isso.
"Diretor artístico de gravadora
vai sempre pensar em lucro, nosso projeto é o oposto, é de autonomia", explica Ganja Man, diretor
artístico de si próprio.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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