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CRÍTICA
Poesia aquém da paixão
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
"Sylvia, Paixão Além das Palavras" poderia ser um filme
previsível, afinal é uma história
pra lá de batida: poeta não reconhecida em vida, que batalha, batalha e, só depois de se matar, aos
30 anos, uma ignição a leva às estrelas. Mas a história de Sylvia
Plath (1932-63), poeta americana
que se casou com o poeta inglês
Ted Hughes (1930-98), é pontuada pelo ciúme doentio que a primeira tinha do marido, de voz sedutora e tendência para affaires.
A poesia está, como desta vez
acertadamente anuncia o título
brasileiro, aquém da paixão.
Gwyneth Paltrow faz Sylvia.
Sim. Nicole Kidman não fez Virgina Woolf? Gwyneth, a garotinha
apaixonada de Shakespeare, até
que surpreende.
O filme começa com a história
de amor entre os dois, estudantes
de Cambridge. Numa metáfora,
ela diz algo como minha vida é
uma árvore, meu marido é um galho, meus filhos, outros, meus
poemas são folhas que, numa
época do ano, caem.
As "folhas caídas" de Sylvia demoraram para ser valorizadas, só
apareceram na esteira do movimento pelos direitos civis americanos -a mulher que é obscurecida pelo marido e toda essa lenga-lenga. É a leitura que Jeffs faz.
"Sylvia" não deixa de passar pela obsessão da personagem com a
morte. Paltrow sorri duas vezes
no filme, as duas em que cita suas
tentativas de suicídio. Mas não
são essas angústias as protagonistas do filme, centrado no amor
aos pedaços de Plath e Hughes.
Apesar de o filme tratar da vida
de um casal de poetas loucos, como todos aparentemente são, é
mais a história de um casal como
muitos são: mulher não consegue
trabalhar devido aos afazeres domésticos, enquanto o marido saçarica por aí. E, por ter mudado o
foco das prioridades, é que é bom,
apesar de frustrar os que buscam
a biografia acadêmica de Sylvia.
Sylvia, Paixão Além das
Palavras
Sylvia
Produção: Inglaterra, 2003
Direção: Christine Jeffs
Com: Gwyneth Paltrow e Daniel Craig
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Cineclube DirecTV e circuito
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