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INDEPENDENTE
Novo CD da banda do underground paulistano reafirma opção por uma estética quase à prova de rótulos
Hurtmold alinha mil faces em "Mestro"
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Nada que signifique algo pra
você", confunde ainda mais a única música com letra e vocal do novo disco do Hurtmold, que acaba
de ser gravado no estúdio El Rocha. Batizado de "Mestro", o disco será lançado em maio pela gravadora mineira Submarine, a
mesma que lançou os outros três
CDs da banda. O Hurtmold é um
dos principais nomes de uma nova cena de vanguarda que vem
surgindo do rock independente
brasileiro e já é conhecido por
suas longas incursões instrumentais que viajam por diferentes escolas do rock.
A faixa citada ("Chuva Negra")
é uma boa amostra da erudição
rock do Hurtmold. Ela abre
ecoando o pós-punk de bandas
como Cure, Sonic Youth e Wire
-tensão rock'n'roll tornada sentimental que não faria feio na pista de dança da Funhouse. Passados quase três minutos e a bateria
assume o comando do improviso
enquanto guitarras, antes sólidas
e em primeiro plano, se esfacelam
ao fundo. As cordas saem de cena,
dando espaço a beats eletrônicos e
belos sopros desencontrados, antes da retomada do tema inicial.
"Não consigo nos colocar num
gênero definido, até porque essas
coisas não servem pra nada", diz
Guilherme Granado, que além
dos vocais ainda toca escaleta, vibrafone e teclado no grupo. Ele cita como referências musicais bandas da atual cena de Chicago, como Tortoise, Chicago Underground, Isotope 217 e Eternals.
Esta última banda dividiu seu último EP com o Hurtmold, no único lançamento do grupo do ano
passado. Além do EP, eles têm outros dois CDs ("Et Cetera" e "Cozido") e dois cassetes.
A banda existe desde 1998. "Começamos do fim de outra banda
em que eu, o Fernando (Cappi,
guitarra e bateria) e o Marcos (Gerez, baixo) tocávamos", lembra
Guilherme, referindo-se ao grupo
Pudding Lane. Nesta época, o baterista Maurício Takara tocava na
banda Small Talk, e Mário Cappi
(guitarra) e seu irmão Fernando
tocavam no grupo Default.
"Quando o Pudding Lane acabou,
resolvemos tirar um som juntos
por amizade e uma certa afinidade musical e estamos aí até hoje",
completa Maurício, que ainda toca no Instituto e com Otto e Xis.
Além de Maurício, outros integrantes também têm seus trabalhos paralelos: Guilherme toca
nas bandas Againe e Van Damien,
banda em que também toca o baixista Marcos Gerez. Mário Cappi
também toca no Polara. O novo
disco ainda inclui um sexto integrante na banda: o percussionista
e clarinetista Rogério Martins.
"É difícil definir música", continua Maurício. "Acho que a gente
faz um rock nem um pouco ortodoxo, coisa que muitas bandas
vem fazendo há anos". Apesar de,
com esta definição, Takara parecer criar um cânone secular para o
som do grupo, não é difícil alinhá-lo com o amadurecimento do
rock underground norte-americano na virada dos anos 80 pros
90, um movimento que encontra
pontos em comum em bandas como Nirvana, Built to Spill, Fugazi
e Hüsker Dü, mas que pode ser
mais facilmente resumido em discos como "Millions of Now Living
Will Never Die", do grupo Tortoise, ou "Spiderland", do Slint.
Mesmo fazendo parte de uma
nova geração de bandas de vanguarda (como Objeto Amarelo,
Pex BaA, Vurla, Screams of Life e
Diagonal), o Hurtmold se vê sozinho no cenário. "Não acho que
existam bandas na mesma praia
em termos de sonoridade, e sim
bandas com quem nos identificamos", conta Granado, citando
bandas como Cidadão Instigado,
Discarga e Space Invaders.
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