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LIVROS
TEATRO
Tese de doutorado de Renata Pallottini sai pela coleção Primeiros Passos
"O que É Dramaturgia" oferece segura introdução ao gênero
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Ninguém escreve teatro
com base em receitas",
avisa Fernando Peixoto logo na
primeira frase da introdução de
"O que É Dramaturgia", de Renata Pallottini, e a autora reafirma
isso até o último parágrafo: o que
importa não é tanto a forma, mas
o conteúdo, o resultado artístico.
Isso dito, a grande qualidade de
Pallottini é seu poder de síntese,
de trocar em miúdos intrincadas
teorias e, colocando-as lado a lado, oferecer ao leitor iniciante
uma apostila que o habilita a mergulhos mais profundos. Nada
mais indicado, portanto, para a
coleção Primeiros Passos.
Reconfiguração de sua tese de
doutoramento, já publicada sob o
título "Introdução à Dramaturgia", o texto não se acanha em ser
uma compilação de teorias, sem
procurar atingir nenhuma tese
própria intricada e revolucionária. Tem o rigor acadêmico indispensável para uma obra de divulgação científica -parte de uma
definição de termos, do que é método dedutivo e indutivo-, mas
com um estilo descontraído, não
raro lembrando uma transcrição
de aula, com truques de sedução
da grande professora que é Renata Pallottini.
A parte inicial é um fichamento
de "European Theories of the
Drama", de Barrett H. Clark, que
ela segue passo a passo, de Aristóteles a Lawson, passando por Hegel, esmiuçando metodicamente
ação dramática, unidade, conflito.
Depois segue, por sugestão de seu
mestre Augusto Boal, por uma
mais técnica ainda comparação
entre dramaturgia e leis dialéticas,
para chegar, agora sob a tutela de
Anatol Rosenfeld, no teatro épico,
com suas razões próprias.
Às vezes, no programado ritmo
ligeiro, algumas noções se atropelam: a noção aristotélica de "peripécia" parece se confundir com
"falha trágica"; no rápido exemplo de silogismo ("a sociedade
justa fará o homem feliz; o teatro
político fará a sociedade justa, logo o teatro político fará o homem
feliz") parece haver um endosso
absoluto da épica brechtiana, reforçado pela observação categórica de que Brecht foi o primeiro a
pensar no espetáculo enquanto
instigador da platéia, escamoteando, pelo menos, Meyerhold.
No entanto, quando o livro parece
caminhar para a conclusão (ingênua, mas cada vez mais repetida)
de que o teatro épico é a solução
de todos os males, Pallottini faz
emocionante declaração de fé no
teatro poético, passando a analisar a sua própria obra, sem falsa
modéstia nem automistificação.
Completado o álbum de figuras,
várias conclusões se abrem para o
leitor. Fica claro como cada época
produz sua fórmula com base no
momento sócio-político dominante: há formas mais adequadas
para certo lugar em certa época,
há fórmulas que são eficientes para fins determinados, mas não há
a fórmula definitiva e atemporal
que garanta a obra "certa", diante
da qual toda outra opção deve recuar envergonhada.
Com bom humor e sem pretensão, endossando a pluralidade de
caminhos, o livro oferece primeiros mas seguros passos para instrumentalizar os dramaturgos
que cada vez mais se fazem necessários no teatro brasileiro.
O que É Dramaturgia
Autora: Renata Pallotini
Editora: Brasiliense
Quanto: R$ 14,80 (136 págs.)
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