São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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CRÍTICA

"Ídolos" recombina música e TV

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Estreou bem "Ídolos", a versão brasileira do SBT de programa inglês. Produção cuidada, fidelidade ao formato e senso de oportunidade -nada disso combina muito com a emissora de Silvio Santos, portanto, não se sabe até quando vai durar, mas por ora é preciso dar um crédito.
Combinação de "reality show" e programa de calouros, o programa faz um sucesso gigantesco nos Estados Unidos na versão "American Idol", exibida aqui pelo canal por assinatura Sony.
O mecanismo é simples: candidatos a se tornarem ídolos da música apresentam-se diante de um júri e, a partir de um determinado número de concorrentes, o público passa a votar.
Música popular e televisão têm uma longa história juntas, inclusive aqui no Brasil. Basta lembrar que a geração de músicos que está no poder, literal e metaforicamente, surgiu em festivais promovidos pela Record.
A MPB, presença ainda hegemônica e parâmetro inamovível do "bom gosto" em termos musicais no Brasil, foi a música brasileira que conseguiu aparecer bem na televisão 40 anos atrás.
Mas agora, 2006, a história se moveu em direções inesperadas. A música que está na TV é a outra, mais brasileira e popular do que a MPB, mas que não pode aspirar a nenhum desses adjetivos.
E também não é exatamente pop, no sentido fixado no eixo Inglaterra-Estados Unidos, e que supõe, entre outras coisas, um ajuste complicadíssimo entre o gosto médio (se é que tem isso numa sociedade tão partida quanto a brasileira) e as tendências mais de ponta. Isso torna a tarefa do corpo de jurados bastante difícil, mas a escolha parece acertada, combinando produtores de origens bem heterogêneas.
Não deve ter sido por isso exatamente, mas o programa de estréia dedicou boa parte do tempo a tentar definir o que é um ídolo pop (e, vejam bem, não popular).
Como ídolos brasileiros invocados como exemplo, apareceram Ivete Sangalo, Wando e Zezé di Camargo -sobre os quais não se pode dizer que não sejam populares, mas será que são pop, no mesmo sentido que Madonna e Eminem? A população, no Brasil, é pop?
Um outro problema curioso que a adaptação do formato apresenta é a dureza da competição. Boa parte, inclusive da graça, do programa consiste em mostrar os excluídos -os candidatos totalmente desavisados, os péssimos cantores, os que se acham bons e são vetados pelos jurados.
Lá, nos EUA, a franqueza no julgamento é a regra e, embora não seja tomada com leveza em todos os casos, há uma cultura que admite as negativas e recusas como parte do jogo. Não à toa, uma das atrações é a crueldade com que o jurado Simon Cowell sentencia sobre a sorte (ou azar) dos candidatos. Aqui, tudo é pessoal -o que faz prever toques bem melodramáticos nos próximos episódios.


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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