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CRÍTICA
"Ídolos" recombina música e TV
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Estreou bem "Ídolos", a
versão brasileira do SBT de
programa inglês. Produção cuidada, fidelidade ao formato e
senso de oportunidade -nada
disso combina muito com a
emissora de Silvio Santos, portanto, não se sabe até quando vai
durar, mas por ora é preciso dar
um crédito.
Combinação de "reality show"
e programa de calouros, o programa faz um sucesso gigantesco
nos Estados Unidos na versão
"American Idol", exibida aqui
pelo canal por assinatura Sony.
O mecanismo é simples: candidatos a se tornarem ídolos da
música apresentam-se diante de
um júri e, a partir de um determinado número de concorrentes, o
público passa a votar.
Música popular e televisão têm
uma longa história juntas, inclusive aqui no Brasil. Basta lembrar
que a geração de músicos que está no poder, literal e metaforicamente, surgiu em festivais promovidos pela Record.
A MPB, presença ainda hegemônica e parâmetro inamovível
do "bom gosto" em termos musicais no Brasil, foi a música brasileira que conseguiu aparecer
bem na televisão 40 anos atrás.
Mas agora, 2006, a história se
moveu em direções inesperadas.
A música que está na TV é a outra, mais brasileira e popular do
que a MPB, mas que não pode aspirar a nenhum desses adjetivos.
E também não é exatamente
pop, no sentido fixado no eixo
Inglaterra-Estados Unidos, e que
supõe, entre outras coisas, um
ajuste complicadíssimo entre o
gosto médio (se é que tem isso
numa sociedade tão partida
quanto a brasileira) e as tendências mais de ponta. Isso torna a
tarefa do corpo de jurados bastante difícil, mas a escolha parece
acertada, combinando produtores de origens bem heterogêneas.
Não deve ter sido por isso exatamente, mas o programa de estréia dedicou boa parte do tempo
a tentar definir o que é um ídolo
pop (e, vejam bem, não popular).
Como ídolos brasileiros invocados como exemplo, apareceram Ivete Sangalo, Wando e Zezé
di Camargo -sobre os quais não
se pode dizer que não sejam populares, mas será que são pop, no
mesmo sentido que Madonna e
Eminem? A população, no Brasil,
é pop?
Um outro problema curioso
que a adaptação do formato
apresenta é a dureza da competição. Boa parte, inclusive da graça,
do programa consiste em mostrar os excluídos -os candidatos
totalmente desavisados, os péssimos cantores, os que se acham
bons e são vetados pelos jurados.
Lá, nos EUA, a franqueza no
julgamento é a regra e, embora
não seja tomada com leveza em
todos os casos, há uma cultura
que admite as negativas e recusas
como parte do jogo. Não à toa,
uma das atrações é a crueldade
com que o jurado Simon Cowell
sentencia sobre a sorte (ou azar)
dos candidatos. Aqui, tudo é pessoal -o que faz prever toques
bem melodramáticos nos próximos episódios.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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