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As rosas do rei
De uma roseira no interior às mãos de Roberto Carlos, conheça o percurso das flores oferecidas nos shows em SP
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
O nome da rosa: carola. Outro: avalanche. Mais alguns:
crème de la crème, latin gypsy
curiosa, surprise, sunny leonidas, superdisco, avant garde.
São milhares de variedades, cada uma com a nomenclatura
mais metida que a outra.
Mas é com as duas primeiras,
a carola (vermelha) e a avalanche (branca), que Roberto Carlos vai fazer feliz as fãs que
compraram ingressos para a
série de cinco shows que começa hoje em São Paulo
O cravo e a rosa
Há 30 anos, Roberto oferece
flores à platéia. Tudo começou
com um cravo, que ele usava na
lapela durante o show. Era
1978. "Um dia, ele viu uma pessoa conhecida e resolveu fazer
uma gentileza, deu um beijo no
cravo e jogou", lembra Neide de
Paula, 75, sua maquiadora e
responsável floral.
"O público vibrou. Comentamos e ele disse "É uma pena que
só tem um cravinho e tanta
mão pra cima...". Então coloquei uma porção de cravos na
estante de palco dele."
"Boa idéia, Neide", agradeceu
o rei. Mas, com o passar do tempo, o olhar severo da dona Neide constatou que os cravos não
estavam com a bola toda. Eram
difíceis de ser encontrados e,
dependendo da época do ano,
eram pequenos e feios.
Assim, passou-se às rosas. O
que deu o maior trabalhão. "O
cravo, eu só tirava a folha e cortava um pedacinho do cabo pra
ficar num tamanho bom. As rosas têm espinhos. É preciso
usar um instrumento especial
de alumínio que comprei na
Venezuela."
"E tem que ser um botão semi-aberto. Porque, se já estiver
aberto, a flor voa pro lado, caem
pétalas, dá tudo errado", ensina
ela, mestra da aerodinâmica.
A rota da rosa
A história das flores de hoje
começa em Holambra, que carrega orgulhosamente o aposto
de "cidade das flores". Ali, 125
km a noroeste da capital, o produtor Adriano Van Rooyen, 48,
colhe 40 mil dúzias todo mês.
Ele planta diversas variedades: tineke (brancas), ambience (bicolor) e até uma chamada
leandra (salmão). Para proteger os botões, coloca redinhas.
Muitas são produto de pesquisadores europeus, chamados aqui de melhoristas. Eles
fazem cruzamento de sementes até achar uma nova variedade que se adapte ao mercado e à
produção. Para completar, os
melhoristas inventam nomes
chiques como green fashion
(essas são verdes). Em troca,
recebem royalties de US$ 1 por
muda plantada.
Van Rooyen planta sua muda, paga o seu dólar e, seis meses depois, colhe. "Cada planta
produz por cinco anos", diz.
Todo dia, Van Rooyen passa
suas carolas para a Cooperativa
Veiling, em Holambra. Dezenas de outros produtores também, incluindo os que plantam
as avalanches. E é lá que aparece, toda quarta-feira, o Pituca.
Pituca, ou Juracy Coelho da
Silva Filho, 44, compra flores
em Holambra para vender em
sua loja na região do Ceasa, em
SP. "Saem cerca de 15 mil rosas
por semana", diz Pituca.
Cássia Rodrigues, 37, é a contratada do grupo Time4Fun para decorar camarins com flores
e velas. Na semana passada, colocou alstroemérias no camarim de Ozzy Osbourne e copos-de-leite no de Rod Stewart. E
ela compra tudo no Pituca.
Alerta
Hoje, depois que Cássia levar
as rosas para os bastidores do
Credicard Hall, a dona Neide
vai chegar e dar uma conferida.
Se gostar do material, vai pedir
ajuda ao auxiliar de produção
Mauricio Clemente para desbastar as flores.
"Depois de limpas, deixo
num balde com água e gelo e, na
hora do show, coloco numa mesinha atrás do Dedé", conta ele.
Dedé, ou Anderson Marquez,
64, não é qualquer percussionista. É o percussionista de Roberto Carlos desde 1962. Roberto confia em Dedé.
Talvez por isso, é Dedé quem
passa os maços de flores para
Roberto no fim do show. Mas,
às vezes, Dedé se irrita com esse negócio de florzinhas: "Sou
músico, eu toco; não sou florista, entendeu?".
Claro que sim, Dedé, mas
existe algum cuidado especial
com as rosas? "O problema é
que o pessoal fica pedindo pra
mim. Imagina o Roberto jogando flores de um lado e eu do outro? Aí, não, né?", diverte-se.
E aqui vai o alerta, caso você
vá hoje ao show. Serão distribuídas exatas 168 rosas, divididas em 14 dúzias: 11 de carola e
três de avalanche.
Mas a histeria para pegar
uma rosa do rei não parece
compatível com as mesmas senhoras que estavam acompanhando canções românticas
minutos antes.
Dedé sempre se espanta:
"Elas vêm fazer guerra. Se tiver
mesa, passam por cima. No início, é tudo madame. No final...".
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