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Sob tensão, museu Segall troca diretoria
Professor aposentado da USP, Jorge Schwartz substituirá a atual diretora, Denise Grinspum, no cargo há seis anos
Transição ocorre em meio à insatisfação de funcionários com a transferência da biblioteca do museu para
a antiga sede do TBC
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Num momento marcado pela tensão entre a diretoria e os
funcionários, o Museu Lasar
Segall vive a transição entre a
atual diretora Denise Grinspum e o professor aposentado
da USP Jorge Schwartz, que assumirá o cargo em maio.
O motivo central para o desgaste interno é a decisão pela
transferência da Biblioteca
Jenny Klabin Segall para outro
edifício, processo que pode levar até dois anos. O acervo de
500 mil itens sobre cinema e
artes cênicas passará a ser administrado pela Funarte, que
pretende comprar e reformar a
antiga sede do Teatro Brasileiro da Comédia para abrigá-lo.
Esse é o mais recente atrito
entre a diretoria e a equipe de
funcionários -parte deles
preocupados e insatisfeitos
com a mudança da biblioteca.
Trata-se de uma relação conturbada há pelo menos um ano,
quando ocorreu a greve dos
funcionários federais da Cultura. Segundo Grinspum, sua saída, no entanto, não está relacionada à pressão interna.
Ela deixa o cargo "para voltar
para a área da educação", como
afirmou à Folha, após seis anos
na direção do museu e outros
17 anos como coordenadora do
setor educativo. "[O conselho]
Lamentou perder a colaboração de uma dedicada profissional que muito contribuiu para
o museu", disse, sobre a saída
de Grinspum, o presidente do
conselho deliberativo do museu, Celso Lafer, ex-ministro
de Relações Exteriores e professor de direito da USP.
Acervo precioso
Embora não esteja entre os
maiores e mais visitados museus paulistanos, o Lasar Segall, na Vila Mariana, é um instituto relevante, com base no
acervo que cobre toda a obra do
artista, além de documentos
históricos e correspondências.
Mantém ainda um pequeno cinema, um ateliê e a biblioteca,
foco do atual conflito.
Único museu em São Paulo
diretamente vinculado ao Ministério da Cultura, é administrado por uma diretoria escolhida por um conselho deliberativo composto por 21 pessoas, metade delas membros da
família Segall, como prevê o estatuto do museu.
Nomeada diretora pelo conselho em 2002, Grinspum deixa o cargo depois do término da
mostra "Segall Realista", que o
museu organizou no Centro
Cultural Fiesp, entre janeiro e
março. Elogiada pela crítica, foi
a maior exposição sobre Segall
realizada em sua gestão.
Mostras individuais como
essa sinalizam a restrição do
foco do museu em torno da
obra do pintor, o que explica a
escolha de Schwartz, especialista em vanguardas artísticas,
para substituí-la. Esse ajuste
explica ainda a transferência
da biblioteca para a Funarte.
A decisão, que vem sendo
discutida há oito anos, partiu
do conselho do Lasar Segall,
que acionou a diretoria do museu e iniciou negociações com
o MinC para transferir a biblioteca para a Funarte.
A responsável pela biblioteca, Maria Cecilia Soubhia, considera a transferência um "erro". Cercada por ventiladores
no espaço apertado para o
acervo -por limitações arquitetônicas, um sistema de ar-condicionado não pôde ser instalado-, ela diz que "a comunidade das artes cênicas ficou boquiaberta com a mudança".
Funcionários da biblioteca
prepararam em janeiro deste
ano um parecer, apresentado à
direção, expressando a preocupação com a mudança -temem que o novo espaço não tenha estrutura adequada nem o
número de funcionários suficiente. Também apontam um
desvio dos rumos do museu em
relação à proposta inicial de
sua fundação, em 1967.
Organizado há 40 anos por
Mauricio Segall, filho do pintor, o acervo foi doado ao governo federal em 1985. Seu primeiro diretor estabelecera como função para a instituição
ser um "centro de atividades
culturais eclético e vivo", segundo documento de 1977.
"Os "statements" institucionais caducam, pois as instituições crescem, se transformam,
se repensam", afirma Grinspum, que descarta uma crise de
identidade do museu. "Crise é
um museu de artes plásticas ter
de investir em periódicos de cinema e teatro em vez de uma
belíssima biblioteca de arte
brasileira ou expressionismo."
No plano diretor que redigiu
para o museu em 2006, Grinspum e sua equipe restringiram
o escopo do museu à obra de
Segall, colocando em segundo
plano atividades paralelas.
O diretor do Departamento
de Museus do MinC, José do
Nascimento Júnior, diz que
conversará com a nova direção
do Lasar Segall para traçar planos de reforma. "O acervo se
encontra muito reduzido naquele espaço." Schwartz, o próximo diretor, diz que "a biblioteca cresceu e precisa mudar".
Meses de desgaste
Embora a mudança de gestão
e a transferência da biblioteca
tenham sido acertadas agora, a
tensão que atinge o museu vem
aumentando desde 2007. Funcionários aproveitaram a greve
dos servidores da Cultura entre
maio e julho do ano passado para apontar problemas de segurança e infra-estrutura.
Segundo laudo elaborado por
funcionários, um terço dos extintores de incêndio do museu
estava precisando de recarga
havia 20 meses. O museu admite que a reserva técnica, onde
são armazenadas as obras, ficou sem ar-condicionado entre
fevereiro e maio de 2007. Não
há registro, no entanto, de danos ao acervo.
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