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CINEMA
Crítica/ "O Equilibrista"
Documentário é elogio ao espetáculo
Filme ganhador do Oscar 2009 aborda equilibrista que atravessou as torres do World Trade Center na corda bamba em 1974
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Quase sempre dedicado
aos "grandes temas
humanos" (desastres
da guerra, perseguições étnicas
etc.), o Oscar de documentário
deste ano optou por um outro
caminho: premiou a reconstituição detalhada, mas também
a celebração dos feitos do equilibrista francês Phillipe Petit,
cuja mais notória façanha foi
permanecer na corda bamba
por quase uma hora, no topo do
World Trade Center, em 7 de
agosto de 1974.
Trata-se, à primeira vista, de
uma façanha fútil. O belo filme
de James Marsh parece investir nessa direção: em nenhum
momento somos informados,
por exemplo, do custo da operação e de como Petit levantou
o dinheiro necessário, embora
cada um de seus detalhes leve o
espectador a formular essa pergunta (cabos enormes e pesados a ser puxados entre dois
fios, material de sustentação,
tempo de preparação e de estudos, equipe vindo da França
etc. -tudo isso tem um custo).
Há mais que gratuidade, no
entanto. O que também vemos
ali, desde o projeto, é o nascimento do WTC, destruído no
célebre 11 de setembro. A percepção poética de Petit é, de
certa maneira, a da relevância
simbólica desse conjunto, que
está para o século 20 como a
Torre Eiffel para o século 19.
Um segundo aspecto que dá
sentido ao filme é o próprio espetáculo. A plena gratuidade do
feito de Petit equivale a um elogio do espetáculo -algo que
Hollywood conhece bem. Um
homem arrisca a vida fazendo
acrobacias sobre uma corda no
alto dos dois prédios mais altos
do mundo. Alguém dirá que isso é completamente besta. Pode ser. Mas como julgar a vida e
os desejos de outro? O que há
de interessante em Phillipe Petit é que, ao ouvi-lo, temos a impressão de que esse homem
não poderia viver sem realizar
esse desejo. E tão intenso ele
era que arrastou a mulher e um
grupo de amigos, que, aliás, correram uma série de riscos (cadeia, deportação etc.). De resto,
não se pode desprezar o sólido
registro visual da vida do funâmbulo francês e do episódio
do WTC em particular reunido
neste documentário.
Novos tempos
Existem ainda dois aspectos
nada desprezíveis. O primeiro
talvez tenha escapado à Academia, mas é de enorme importância: a gratuidade do feito de
Petit não é uma qualquer. Ela
existe na história, numa história específica. Este homem nascido em 1949 é, claramente, um
filho de 1968, de sua rebeldia
diante de padrões estabelecidos, de seu espírito transgressor, de seu pensamento "marxista, linha Groucho", de uma
inquietude característica daquela geração.
Há, por fim, um sentido bem
evidente nesta premiação. Sendo um elogio do espetáculo, do
risco, da gratuidade e até da rebeldia, "O Equilibrista" não
deixa de conter um claro aceno
de Hollywood aos novos tempos, aos tempos pós-Bush: trata-se ainda de um elogio do
equilíbrio, essa virtude tão preciosa quanto pouco valorizada,
tão vital (em certas circunstâncias) quanto rara.
O EQUILIBRISTA
Direção: James Marsh
Produção: EUA/Inglaterra, 2008
Onde: em cartaz no Cine Bombril 2 e no
Espaço Unibanco Augusta 4
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
Avaliação: bom
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