São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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15º É TUDO VERDADE

Filme explora utopia da paz no Oriente Médio

"Budrus" retrata movimento de resistência pacífica de um vilarejo contra o muro que Israel ergue na Cisjordânia

Cineasta brasileira critica cobertura viciada que a mídia faz do conflito palestino-israelense e foca no poder da sociedade civil


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

No território que divide o mundo e a geopolítica desde o pós-Guerra, palestinos e israelenses alternam os papéis de mocinho e bandido de acordo com enfoque e conveniência.
Ali, predomina o apelo da guerra, da morte e do jogo político internacional, num ciclo perverso que aparta dois povos e transforma negociações de paz em um projeto impossível.
Em "Budrus", no entanto, a cineasta Julia Bacha, 29, -brasileira de origem libanesa radicada em Nova York há 12 anos- registra a primeira ação de resistência pacífica que uniu palestinos rivais, do Hamas e do Fatah, a ativistas israelenses em torno de uma mesma causa: impedir a construção do muro que Israel pretendia erguer no quintal do pequeno vilarejo rural de Budrus, na Cisjordânia.
Ao focar nas ações protagonizadas em 2003 pelos 1.500 habitantes de Budrus, Bacha conta uma história pacifista de sucesso num contexto marcado pelo ódio e pelo revanchismo.
"Existe um vício da mídia em cobrir o conflito entre Israel e Palestina sempre da mesma maneira, o que deixa de fora as mobilizações da sociedade civil e suas conquistas", explica.
Nesse sentido, Bacha não poderia ter feito escolha mais feliz. No lugar do confronto, o líder comunitário de Budrus, Ayed Morrar, articula manifestações não-violentas para impedir que cercas e muros engulam mais de um quilômetro quadrado as terras da vila, o que inclui 3 mil oliveiras e parte do cemitério local.
A resistência sem violência dos palestinos cria um impasse ao exército de Israel, expresso nos depoimentos da soldado Yasmina, que integrava a equipe israelense responsável pela construção do muro. "Somos como robôs", diz. "E temos ordem para empurrar os manifestantes e darmos continuidade aos trabalhos."
A persistência dos manifestantes de um lado e o imperativo da ordenação militar de outro criam uma tensão que permeia todo o filme. Aos poucos, ativistas israelenses passam a integrar as ações em Budrus, transformando-as num marco de cooperação palestino-israelense, impensável para quem até então só havia conhecido judeus de arma nas mãos. Após mais de dez meses de resistência pacífica, o muro é desviado das terras de Budrus. Para Bacha, está aí a prova de que a paz é um projeto viável. "A vitória de Obama e o crescimento desse tipo de ação mostram que é possível resolver esse conflito de forma pacífica."


BUDRUS

Direção: Julia Bacha
Quando: Hoje, às 23h, no Reserva Cultural (haverá sessões dias 10, 11, 15 e 17. Confira a programação em www.etudoverdade.com.br)




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