|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
ANÁLISE
Era um oportunista nato e farsante genial
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
Quarta-feira, John Lydon, o
ex-vocalista dos Sex Pistols,
apareceu na TV americana
anunciando a turnê de reunião
de sua banda Public Image Ltd.,
que vai abrir o famoso festival
Coachella. No dia seguinte,
Malcolm McLaren, o homem
que "inventou" Lydon e sua
persona, morreu em Nova
York. Mesmo brigados há muito tempo, aposto que McLaren
expirou secretamente orgulhoso do pupilo. Afinal, foi ele
quem ensinou Lydon a sobreviver no mundo pop.
Jovem, McLaren interessou-se pelas ideias de Guy Debord e
do movimento Situacionista.
Pelos 40 anos seguintes, ele
transplantou essas ideias para
o mundo pop, usando astúcia,
faro para o novo e tino comercial. McLaren foi um grande
manipulador da mídia que soube, como poucos, inventar situações e polêmicas para chamar a atenção. Era um oportunista nato e um farsante genial.
No início dos anos 70, McLaren percebeu o potencial comercial do punk rock, com New
York Dolls e Sex Pistols. Sabia
que a molecada ia gostar do
som e que os intelectuais cairiam no conto da "música proletária". Tinha certeza também
que a mídia babaria com jovens
que xingavam a rainha e se furavam com alfinetes. McLaren
não só montou os Sex Pistols,
mas criou o estilo da banda e
orientou suas atitudes. Os Pistols foram seu Frankenstein.
Claro que McLaren não tinha
nenhum interesse pela música
dos Pistols. O punk rock foi
apenas um laboratório para ele
experimentar suas teorias sobre a manipulação da mídia e
do público. Assim que o punk
deu os primeiros sinais de fadiga, pulou para outra: nos anos
80, "descobriu" o hip-hop, o
break e a cultura de rua negra.
Lançou "Duck Rock", disco que
ajudou a difundir o hip hop na
Europa (as faixas "Buffalo
Gals" e "Double Dutch" chegaram ao top 10 na Inglaterra).
Depois do hip-hop, McLaren
flertou com a eletrônica, ópera
e trilhas para cinema. O disco
"Waltz Darling" (1989), inspirado no estilo de dança "vogue"
dos clubes gays de Nova York,
antecipou o sucesso "Vogue",
de Madonna. O que comprovou, mais uma vez, sua capacidade de antever tendências.
Nos últimos anos, McLaren
dedicou-se a projetos diversos,
sem nunca deixar a polêmica
de lado. Chegou a anunciar sua
candidatura à Prefeitura de
Londres, mas não concorreu.
Em 2007, ganhou manchetes
ao abandonar a gravação de um
"reality show" da TV inglesa,
acusando a produção de ser
"uma farsa". Logo ele, que inspirou e estrelou "A Grande Farsa do Rock and Roll" ("The
Great Rock and Roll Swindle"),
o filme de Julian Temple sobre
o Sex Pistols. É preciso um farsante para reconhecer outro.
Texto Anterior: Mentor do punk, McLaren morre aos 64 Próximo Texto: Repercussão Índice
|