São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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Carrère prepara livro sobre Limonov

Francês lança no outono europeu obra sobre fim do comunismo e do pós-comunismo baseada na vida do escritor russo

Autor de "Um Romance Russo" critica a autoficção,"moda que recupera a literatura autobiográfica"

Boris Svartzman/Folhapress
O escritor Emmanuel Carrère em Paris

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Filho da escritora Hélène Carrère d'Encausse, descendente de nobres russos e secretária perpétua da Academia Francesa de Letras, Emmanuel Carrère se diz melhor escritor do que cineasta, mas afirma ser "uma grande sorte" poder fazer três tipos de trabalho.
No outono europeu, ele lança "Limonov", sobre o autor russo. Leia a continuação da entrevista a seguir.
(LENEIDE DUARTE-PLON)

 


Folha - O sr. estava escrevendo sobre a Rússia, sobre o escritor Eduard Limonov. É a história recente do país que lhe interessa?
Emmanuel Carrère -
Acabo de terminar esse livro, que se chama "Limonov". Trata do fim do comunismo e do pós-comunismo. Limonov está com quase 70 anos, sua história vai da Batalha de Stalingrado até os dias de hoje.

Por que o escolheu como personagem central?
Ele é, ao mesmo tempo, um aventureiro e alguém cuja vida me permite contar 50 anos de história de maneira muito... Como dizer? É mais ou menos como se ele estivesse sempre lá, onde coisas estranhas aconteciam na história contemporânea. Desse ponto de vista, acho que é um bom herói romanesco.

O livro é uma espécie de biografia autorizada?
Não, acho que ele não vai gostar. Penso que, em geral, as pessoas não gostam quando alguém conta suas vidas. Tenho uma interpretação com a qual ele não vai concordar. Na realidade, não é uma biografia, apenas conta sua vida.

Biografias são limitadas?
O livro sobre Limonov é uma biografia no mesmo sentido em que "Outras Vidas que Não a Minha" é uma biografia dos dois juízes. No mesmo sentido em que "O Adversário" é uma biografia de Jean-Claude Romand.
Isso não corresponde exatamente ao que se chama uma biografia. Mas, ao mesmo tempo, literalmente pode-se dizer que é uma biografia porque é a narrativa da vida de uma pessoa.

O sr. é roteirista, escritor, dirigiu um documentário e um filme. Qual a atividade mais importante em sua vida?
Escrever livros é a atividade na qual penso que me saio melhor. É a que me dá mais satisfação. Mas é uma grande sorte poder escrever roteiros e fazer filmes.
Escrever livros é uma atividade muito solitária, exigente, que pode ser gratificante, mas angustiante. Nesse aspecto, é bom poder parar e fazer outra coisa.

O sr. pensa em continuar a exercer as três atividades?
Comecei a trabalhar para uma série de televisão para o Canal Plus. Uma história fantástica, sobrenatural, e talvez eu dirija alguns episódios. Ainda está em fase embrionária, mas é muito excitante.

O sr. disse que "Outras Vidas" não é autoficção porque é 100% verdadeiro.
E, além disso, não é tão autobiográfico. "Um Romance Russo" é um livro no qual eu era o narrador e o personagem principal, enquanto nesse eu não sou o centro.

"Um Romance Russo" é um livro de autoficção? Existe o que se chama na França de autoficção?
Essa palavra me incomoda, não acho que seja feliz, mas, ao mesmo tempo, me interesso pelo que se chama autoficção. No fundo, acho que seja uma moda literária.

Seria uma forma de narcisismo dos autores, uma forma de falar deles mesmos em seus romances?
O que me espanta é que se apresente como moda algo que é mais antigo que o romance. As pessoas sempre foram levadas a escrever suas vidas. O romance é um gênero muito mais especializado, recente, como a tragédia em cinco atos, como o soneto, uma coisa particular.
Acho estranho chamar de autoficção o que é parte da literatura autobiográfica. Gosto da literatura autobiográfica de maneira geral.


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