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MÚSICA
Cantor lança `Quanta', sua `leitura poética sobre ciências e sobre interfaces da ciência com filosofia, religião e arte'
Gil faz ponte entre ciência e arte
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local
O "engenheiro musical" Gilberto Gil constrói uma "ponte"
unindo ciência e arte, modernidade e tradição em seu novo disco, o
CD duplo "Quanta".
Para o cantor, "Quanta" é seu
disco mais conceitual. "Pelo menos é o que me deu mais trabalho,
levou mais tempo e me deu mais
dúvidas", diz ele, que concedeu
ontem entrevista à Folha. O cantor
mostrará ``Quanta'' no Palace, a
partir de amanhã e até domingo.
No disco, Gil elabora "uma leitura poética sobre a ciência e sobre
suas interfaces com a filosofia, religião e arte", como define o compositor.
No disco, ele fala de fractais, Internet, hackers, quarks etc. Ao
mesmo tempo, trata de filosofia
chinesa e candomblé.
O disco almeja criar "pontes entre o campo mágico e o campo da
física", algo que, segundo ele, retrata uma aproximação que já
acontece entre a ciência e misticismo, como a ufologia.
No CD, Gil afirma a vocação para
construtor da ponte. "Desde o
tropicalismo a idéia era essa, pontes em universos contínuos. Criei
esse hábito. Por isso que eu digo
que sou tropicalista até hoje."
Samba-enredo ornamental
O manifesto de intenções de Gil é
exposto nas duas primeiras músicas do disco, "Quanta", de Gil, e
"Ciência e Arte", de Cartola e
Carlos Cachaça.
"Sei que a arte é irmã da ciência/Ambas filhas de um Deus fugaz", canta Gil em "Quanta",
dueto com Milton Nascimento.
A música "Ciência e Arte" foi
uma das inspirações do disco. "É
um samba-enredo ornamental,
poético e dedicado a louvar as
ciências e os campos do conhecimento no Brasil. É a música emblema do disco", diz.
Com 25 músicas, o álbum foi
concebido com uma coluna vertebral: "Quanta", "Dança de Shiva", "Ciência em Si", "Átimo de
Pó", "Pop Wu Wei", "Objeto
Sim, Objeto Não". "Objeto Ainda
Menos Identificado", a 26¦ faixa,
ficou de fora. Para entrar em próximas prensagens depende da
anuência dos autores das citações
e dos samplers usados.
As outras músicas, segundo Gil,
orbitam em volta desse eixo abordando conceitos adjacentes. Religião, por exemplo, está presente
em "Água Benta".
Gil não se preocupa com a possibilidade das músicas que falam de
tecnologia, como "Pela Internet", ficarem datadas.
`Pelo Telefone' (oficialmente o
primeiro samba gravado), do
Donga, é datado. Está comemorando 80 anos. Está datadíssimo",
ironiza. "É por estar falando em
quark, neutrino, internet? Tem
coisas que são datadas. Qual é o
problema com datas?", pergunta.
Gil elaborou "Quanta" seguindo os conceitos do Yin e Yang (os
dois opostos/complementares da
filosofia taoísta. O primeiro disco é
mais pulsante, o segundo é mais
tranquilo. No segundo estão concentradas as homenagens: "De
Ouro e Marfim", para Tom Jobim, "Sala do Som", para Milton
Nascimento, "Um Abraço no
João", para João Gilberto, "O
Mar e o Lago", para Mário Lago.
Há outras homenagens. O disco
é dedicado a Cássia Eller, Zeca Pagodinho e Chico Science, que recebe uma homenagem indireta em
"Vendedor de Caranguejo", de
Gordurinha.
"Cheguei a oferecer essa música
para o Chico gravar. Eu dizia para
ele: `Olha aqui o manifesto mangue beat. Já tinham feito antes de
você'", diz.
colaborou Armando Antenore
Show: Quanta
Artista: Gilberto Gil
Onde:: Palace (av. dos Jamaris, 213,
Moema, tel. 011/531-4900)
Quando: Hoje, às 21h30, amanhã e
sábado, às 22h, e domingo à 20h
Quanto: R$ 20 a R$ 50
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