São Paulo, Sexta-feira, 09 de Abril de 1999
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"COELHO NA LUA"
O horror japonês nos EUA

ADRIANE GRAU
em São Francisco

Logo após a Segunda Guerra Mundial, o mundo assistiu com horror ao resultado dos campos de concentração criados pelos nazistas na Europa.
Nos Estados Unidos, na mesma época, um silencioso contingente de 120 mil japoneses e seus descendentes americanos tentavam retomar sua vida. Eles haviam passado três anos e meio em "campos de internação" organizados pelo governo dos Estados Unidos.
No documentário "Coelho na Lua", que será apresentado hoje no Rio no festival É Tudo Verdade, as irmãs Omiko e Chizuko Omori se unem para avaliar a herança da repressão à cultura japonesa no país. O filme recebeu o prêmio de melhor cinematografia no festival de Sundance este ano.
Os campos de internação foram criados no Meio-Oeste para isolar os imigrantes de origem japonesa que viviam na Costa Oeste dos EUA. O governo americano temia que estes apoiassem e auxiliassem uma possível invasão das tropas de seu país de origem.
Na Europa, Adolf Hitler condenava aos campos de concentração quem tinha 1/4 de sangue judeu. Nos EUA, descendentes com apenas 1/16 de sangue japonês já eram considerados perigosos. "Mas, na prática, a maioria era japoneses ou filhos de japoneses"", lembra Omiko. "Não estávamos no país ha mais de uma geração".
A família Omori passou três anos e meio no campo de Poston, no Arizona. A mãe morreu logo após ser liberada, e o pai retomou a vida como agricultor de morangos. Nunca falaram sobre o assunto e aceitaram o pedido de desculpas e os US$ 20 mil do governo americano.
"O fato de sermos capazes de protestar é importante para mim." O filme revela o movimento de resistência surgido então e que até hoje divide a colônia japonesa.
O mesmo tema já havia sido explorado em "Days of Waiting", que recebeu um Oscar ao revelar a história de uma americana que se uniu ao marido e filho japoneses num campo de internação.
A lei americana que permite que documentos sigilosos do governo sejam examinados após 50 anos deu origem a investigação de Chizuko que resultou no filme. Um questionário que visava avaliar a lealdade dos prisioneiros ao governo americano é exposto. Os filmes de propaganda oficial do governo mostram "felizes prisioneiros dispostos a começar vida nova" e evoluem para o sofrimento do inverno sem aquecimento e comida racionada.
Os japoneses tiveram três meses para deixar a costa em 1942 e se mudar para o interior do país antes de serem levados para os campos. Muitos não agiram em tempo, outros se recusaram.
Segundo ela, um acordo entre os governos dos EUA, México e Peru garantiu a extradição de imigrantes daqueles países para os campos americanos. O governo brasileiro teria se recusado a formar tal aliança.


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