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"COELHO NA LUA"
O horror japonês nos EUA
ADRIANE GRAU
em São Francisco
Logo após a Segunda Guerra
Mundial, o mundo assistiu
com horror ao resultado dos
campos de concentração criados pelos nazistas na Europa.
Nos Estados Unidos, na mesma época, um silencioso contingente de 120 mil japoneses e
seus descendentes americanos
tentavam retomar sua vida.
Eles haviam passado três anos e
meio em "campos de internação" organizados pelo governo
dos Estados Unidos.
No documentário "Coelho na
Lua", que será apresentado hoje no Rio no festival É Tudo
Verdade, as irmãs Omiko e
Chizuko Omori se unem para
avaliar a herança da repressão à
cultura japonesa no país. O filme recebeu o prêmio de melhor cinematografia no festival
de Sundance este ano.
Os campos de internação foram criados no Meio-Oeste para isolar os imigrantes de origem japonesa que viviam na
Costa Oeste dos EUA. O governo americano temia que estes
apoiassem e auxiliassem uma
possível invasão das tropas de
seu país de origem.
Na Europa, Adolf Hitler condenava aos campos de concentração quem tinha 1/4 de sangue judeu. Nos EUA, descendentes com apenas 1/16 de sangue japonês já eram considerados perigosos. "Mas, na prática, a maioria era japoneses ou
filhos de japoneses"", lembra
Omiko. "Não estávamos no
país ha mais de uma geração".
A família Omori passou três
anos e meio no campo de Poston, no Arizona. A mãe morreu
logo após ser liberada, e o pai
retomou a vida como agricultor de morangos. Nunca falaram sobre o assunto e aceitaram o pedido de desculpas e os
US$ 20 mil do governo americano.
"O fato de sermos capazes de
protestar é importante para
mim." O filme revela o movimento de resistência surgido
então e que até hoje divide a colônia japonesa.
O mesmo tema já havia sido
explorado em "Days of Waiting", que recebeu um Oscar ao
revelar a história de uma americana que se uniu ao marido e
filho japoneses num campo de
internação.
A lei americana que permite
que documentos sigilosos do
governo sejam examinados
após 50 anos deu origem a investigação de Chizuko que resultou no filme. Um questionário que visava avaliar a lealdade
dos prisioneiros ao governo
americano é exposto. Os filmes
de propaganda oficial do governo mostram "felizes prisioneiros dispostos a começar vida nova" e evoluem para o sofrimento do inverno sem aquecimento e comida racionada.
Os japoneses tiveram três
meses para deixar a costa em
1942 e se mudar para o interior
do país antes de serem levados
para os campos. Muitos não
agiram em tempo, outros se recusaram.
Segundo ela, um acordo entre
os governos dos EUA, México e
Peru garantiu a extradição de
imigrantes daqueles países para os campos americanos. O
governo brasileiro teria se recusado a formar tal aliança.
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