São Paulo, sexta, 9 de maio de 1997.



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Elisa Stecca lança experimentalismos

JACKSON ARAUJO
free-lance para a Folha

O segundo dia de desfiles da Semana de Moda foi marcado pelos experimentalismos de Elisa Stecca e de uma tomada de rumo por parte de Lorenzo Merlino.
A estilista e designer de jóias Elisa Stecca apresentou uma coleção centrada na experimentação de formas, texturas e tecidos.
Stecca abriu a noite ao som de Siouxie Sioux mixado com Chemical Brothers. Na passarela, uma sequência de looks chamados pela estilista de "falsa natureza", com tecidos imitando texturas de madeira. Nesse bloco, as jóias são discretas e aparecem como tiaras e pulseiras.
A estilista trabalhou bem as fendas e aberturas nos cotovelos e ombros, quebrando pouco a pouco o minimalismo plástico de suas coleções anteriores. Um exemplo é a saia de abertura lateral com abotoamento em pequenas cobras de metal oxidado.
Os dois looks masculinos foram dispensáveis. O melhor mesmo é a sandália em estilo franciscano com aparência confortável.
Na linha de inspiração nômade, Stecca usou os tecidos elaborados pela designer Marúzia Fernandes, como uma gola de pedacinhos de viés colados e uma textura feita com silicone e chenile, quase um devorê.
Entre as texturas, Stecca aproveitou bem os frufrus de náilon e cria novos volumes com sobreposição de transparências. As cores são bege e turquesa.
Entre as jóias, destaque para o colar com pingentes em vidro cheios de areia, inspirados na forma das ampulhetas.
Stecca revisitou os anos 80 com a estrutura da saia balonê que apareceu escorrida e sem volume.
Para finalizar, uma sequência de looks em roxo.
O desfecho veio over, quase kitsch, com um vestido de organza bordado com grandes flores e uma gola tipo clown em guipure cor de laranja. O melhor look do desfile.
Depois foi a vez de Lorenzo Merlino mostrar sua coleção "aristocrática decadentista".
Ao som de drum'n base mixado com Michael Nyman, Merlino iniciou o desfile com uma sequência de vestidos pesados em tecido emborrachado.
Fiel ao seu estilo, Merlino deslocou costuras e assumiu de vez o seu gosto por tecidos repuxados, de aspecto sintético e cores sujas e escuras.
De fato, parece roupa agora. Se as costuras repuxam, elas são simétricas. Se os ombros são franzidos, são franzidos com simetria.
A imagem perfeita para sua roupa veio com a não-modelo Luz Morena. Com um corpo totalmente fora do comum, tronco e costas largas de estrutura quadrada, Luz foi quem melhor interpretou a coleção de Merlino, emprestando uma performance cool e rígida para roupas disformes.
As golas têm um discreto orientalismo e as saias ganham pequenas fendas com delicados encaixes de tecido brocado.
Nos vestidos tomara-que-caia, o estilista se arrisca em modelagens sem as tradicionais barbatanas que sustentam decotes do gênero.
Nos pés, Merlino melhora as sandálias com tiras largas e lança um tênis branco com detalhes em brocado e cadarços dourados.
O melhor momento foi a calça em tecido degradê com pences nos joelhos, desfilado por Alê Marques. Decidido, Merlino confundiu e irritou a platéia com uma coleção de formas secas e cortes esquisitos.



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