São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2000


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LITERATURA
Rainha da Dinamarca, país onde nasceu Andersen, quer livros autografados pela autora brasileira
"Nobel" da literatura infanto-juvenil é de Ana Maria Machado

Patrícia Santos/Folha Imagem
A escritora Ana Maria Machado, que ganhou o Hans Cristian Andresen, em palestra na Bienal do Livro


CRISTINA GRILLO
EM SÃO PAULO

A escritora Ana Maria Machado anda buscando a solução para um problema: como se autografa um livro para uma rainha? A questão surgiu há poucas semanas. Desde que foi escolhida como vencedora do Prêmio Hans Christian Andersen -considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil-, ela tem recebido uma enxurrada de e-mails com elogios, cumprimentos e pedidos de autógrafos.
Um deles veio da Dinamarca, onde nasceu Hans Christian Andersen. Mais especificamente, do gabinete da rainha Margrethe 2ª, pedindo livros autografados.
"O que escrevo para ela? Não sei como começar", conta a escritora, homenageada semana passada na 16ª Bienal do Livro de São Paulo.
A escolha para receber o Hans Christian Andersen foi para ela "como ganhar a Copa do Mundo". O prêmio foi anunciado em março na Feira de Bolonha. A escritora estava lá, mas não tinha esperanças de ser escolhida.
O júri havia se reunido uma semana antes na Suíça. "Ninguém telefonou depois da reunião e achei que estava fora. Embarquei para Bolonha para ver a feira. Nem estava no auditório quando meu nome foi anunciado", conta.
A dimensão da homenagem na Bienal foi outra surpresa: discurso do ministro da Cultura, Francisco Weffort, leitura de trechos de seus livros por Cássia Kiss e muitas palmas. "Não esperava essa repercussão aqui no Brasil", diz.
Ana Maria Machado é a segunda brasileira a ganhar o prêmio concedido pela International Board on Books for Young People a cada dois anos -a primeira foi Lygia Bojunga, em 1982.
Para a escritora, isso é um sinal da alta qualidade da literatura infanto-juvenil do país. O prêmio existe há 44 anos e só os EUA, com quatro autores premiados, ganharam mais vezes que o Brasil.
Monteiro Lobato, para ela, é um dos responsáveis por isso. "Fomos formados lendo seus livros e temos noção de que literatura infanto-juvenil não é uma coisinha educativa para criancinhas", diz.
Prova disso é que vários escritores do primeiro time da literatura brasileira se dedicaram a escrever para crianças, como Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Cecília Meirelles e Vinicius de Moraes.
"Isso não é comum em outros países, onde a literatura infanto-juvenil é relegada a um papel apenas pedagógico, com algumas pinceladas moralistas."

Marketing
Enquanto o Brasil tem a qualidade, autores de outros países contam com um marketing invejável. Um exemplo é o lançamento mundial da série "Harry Potter", da britânica J. K. Rowling.
"Potter é muito divertido, é um livro muito bom, mas, se tivéssemos estrutura de marketing parecida, autores brasileiros venderiam muito mais", diz, citando autores como Ruth Rocha, Lygia Bojunga, Pedro Bandeira e João Carlos Marinho, entre outros.
A escritora já vendeu quase seis milhões de exemplares de seus 104 títulos -nove deles para adultos. Agora, na Bienal, a editora Salamandra lançou uma edição especial de "Bisa Bia, Bisa Bel", comemorativa dos 500 mil exemplares vendidos desde seu lançamento, em 1982. "É o meu disco de ouro", brinca a autora.
Machado está lançando, pela Ática, "Melusina, Dama dos Mil Prodígios", da coleção "Tapete Mágico", no qual reúne histórias recolhidas em viagens.
Há mais. Pela Nova Fronteira, saem "A Ponte do Meu Irmão", "Mas que Festa!" e "O Tesouro das Virtudes para Crianças 2".
Neste, Ana Maria reúne textos clássicos da literatura brasileira comentados por dois personagens: a traça Orelina, que funciona como um dicionário, explicando o sentido de palavras menos conhecidas, e o grilo Cri-Cri, diminuição de "Criatura Crítica", inventado para desenvolver a leitura crítica das crianças.
Por exemplo, ao lado do poema "Os Reis Magos", de Olavo Bilac, o Cri-Cri explica para os leitores que, apesar de ter tido a intenção de dizer em seu poema que os homens são iguais e que não há distinção entre as raças, ele usa termos como "escuro de fazer dó" e "o mais feio de todos".
"As crianças de hoje não lêem mais Bilac. É bom ler o contemporâneo, mas é preciso não perder o contato com o clássico."



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