São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Pintor futebolista paulistano ganha reedição de livro, site e retrospectiva no MAM de SP, em agosto

Cem anos de Rebolo ganham homenagens

Reprodução do livro "Rebolo"
Detalhe de "Igreja e Figura", de 1935, do paulistano Rebolo, que ganha site hoje em homenagem ao centenário de seu nascimento e, em agosto, mostra retrospectiva


RODRIGO MOURA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Francisco Rebollo Gonsales (1902-1980) teve duas grandes paixões. Um dos pintores brasileiros mais identificados com a cidade de São Paulo, Rebolo, nome artístico que adotou, nutriu ao lado das artes plásticas um profundo envolvimento com o futebol; foi inclusive jogador no Corinthians de 1921 a 1927, antes de se fixar como pintor nos anos 30.
Para celebrar o centenário de nascimento do pintor, uma série de homenagens unindo os dois campos terá início a partir de hoje com a inauguração do site (www.uol.com.br/franciscorebolo) dedicado a sua vida e obra pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Será uma homenagem importante, pois, além de admirador do artista, o presidente é também corintiano", diz o sociólogo Antonio Gonçalves, coordenador da comissão do centenário do artista. Rebolo foi o responsável pela criação escudo do clube paulistano, na década de 30.

Retrospectiva
Além de site na internet, Rebolo também ganhará nova oportunidade de exibição para o público. Curada pela crítica Lisbeth Rebollo Gonçalves, filha do artista, uma exposição retrospectiva vai ocupar o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) a partir do dia 15 de agosto.
A mostra vai reunir cerca de cem obras do artista, buscando, segundo a curadora, "um confronto entre as suas fases dentro da montagem".
Rebolo foi o responsável, na década de 30, pelo início da formação do grupo Santa Helena, nome emprestado do edifício no centro da cidade de São Paulo onde o pintor instalou seu ateliê de pintura de cavalete.
Em torno do grupo, se reuniram artistas importantes na fase posterior ao modernismo de 22 em São Paulo, como Alfredo Volpi, Mário Zanini e Aldo Bonadei. Da sua primeira fase, são conhecidos os retratos e as paisagens, registrando cenas do futebol, dos primórdios da vida urbana em São Paulo e dos arrabaldes da cidade.
Como aconteceu com muitos dos pintores brasileiros ligados ao figurativismo, Rebolo experimentou, a partir do fim dos anos 40, uma forte tendência à geometrização na sua obra. "Isso aparece nos casarios que ele pinta na Itália", diz Lisbeth.
"Posteriormente, a partir dos anos 60, sua pintura passa a se preocupar muito com a matéria, resultado de seu envolvimento com a xilografia, da qual empresta técnicas para a pintura. Isso até chegar à sua última fase, na qual a luminosidade volta a dominar o quadro, promovendo um encontro com suas primeiras pinturas", afirma.
Toda a trajetória do artista, segundo Lisbeth, é marcada por um profundo lirismo. "Sua pintura é profundamente intimista. Ele nunca foi um pintor de telas grandes. Os assuntos da sua pesquisa são todos relacionados à própria pintura: natureza-morta, paisagem, retrato. Ele era como um poeta, que necessita registrar o verso quando ele vem. Daí não usar grande formatos."
Na mostra, além de suas obras -quase todas de pequeno formato, o que permitirá a inclusão de muitas peças, inclusive espalhadas por vitrines-, será exibido o curta-metragem "O Anel Lírico" (1975), dirigido por Olívio Tavares de Araújo, com depoimentos do artista.
Paralelamente à exposição, será lançada a reedição, pela Imprensa Oficial de São Paulo/Edusp, de "Rebolo", livro de 1986 esgotado desde então, em 5.000 exemplares. A publicação conta com 120 reproduções de obras do artista, além de cronologia comparada, monografia de Elza Ajzenberg, ensaio de Olívio Tavares de Araújo e uma coletânea de artigos críticos de época.
Até o final do ano, serão feitas homenagens ao pintor ainda pelo Corinthians e outras exposições estão em fase de negociação, entre elas, uma dedicada à sua produção como gravador, na galeria de arte da Fiesp, na avenida Paulista.



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