São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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entrevista

Eva Wilma defende teatro "de idéias"

ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A paulista Eva Wilma diz que encara a Margareth de "O Manifesto" como oportunidade que mais aprecia no teatro: expor idéias. O texto lhe atrai por causa da abordagem política a partir da relação afetiva do casal. E por tocar na questão da finitude, ponto de mutação da personagem. Casada por 21 anos com John Herbert e por 22 anos com Carlos Zara, morto há quatro anos, Wilma se diz chocada com artistas que namoram como estratégia para a celebridade.

 

FOLHA - O que a cativa na peça?
EVA WILMA -
Diria que é o aspecto político que perpassa a relação do homem conservador com a mulher que se assume mais progressista. Fui cativada ainda pela questão da finitude. É um tema fascinante, nos dá consciência para mergulhar na vida com serenidade e humor. Muita gente acha que o humor inglês é pernóstico, sofisticado demais. Não é. Chega no nervo, é inteligente.

FOLHA - Há que ter habilidade para essas brechas no drama.
WILMA -
É muito bom porque entra na finalidade teatral que mais me agrada. Quer dizer, sou a favor de todo tipo de teatro, mas tenho preferencia pelo teatro de idéias. O teatro é minha base, é minha escola. Posso fazer melhor o cinema e a televisão se não abandono meu celeiro, digamos assim.

FOLHA - Houve um momento na carreira em que a sra. foi mais radical na experimentação, encabeçando um "Esperando Godot" feito só por mulheres, contrariando Samuel Beckett, que pedia intérpretes masculinos.
WILMA -
Eu sabia que você ia falar disso... Foi uma fase de transição em minha vida [fim de um relacionamento], o que acabou me estimulando muito para fazer "O Manifesto". A certa altura, Margareth diz ao marido: "Pelo menos uma vez na vida eu tinha que... que agir... Simplesmente agir". Em 1977, estávamos ainda sob a censura militar e aquela magnífica tradução do Flávio Rangel caiu em minhas mãos. O Antunes [Filho], que dirigiu, definia nosso "Esperando Godot" como "esperando a democracia".

FOLHA - E por que a opção de encenar só com mulheres?
WILMA -
Acho que Cacilda [Becker] estava assoprando em meu ouvido (risos). Foi principalmente por causa da minha grande admiração pelos trabalhos de Lilian Lemmertz, de Lélia Abramo e de Maria Yuma, as duas últimas freqüentemente aplaudias em cena aberta.

FOLHA - Você viveu dois longos casamentos com atores, imagino que era bastante assediada pela imprensa. Com vê a era da celebridade em que até namoros são arranjados?
WILMA -
Sem dúvida, é chocante. Eu sempre tive consciência disso, nunca me deixei fisgar. Em vez de ser usada, eu usei [a mídia]. Hoje, as pessoas se deixam usar e não percebem ou até gostam, o que é mais dramático. Tudo depende da formação. Para mim, a popularidade que a novela nos dá é equiparável à responsabilidade do que faço com a fama.


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