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Comentário
"A Liga" erra ao vitimizar personagens
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pense num "Profissão Repórter" (Globo) no qual os profissionais fazem as vezes de
protagonistas da reportagem.
Se o tema do programa for a vida dos moradores de rua, lá vão
eles perambular dia e noite sem
destino certo. Incorpore ao
elenco um Gugu travestido de
mendigo, personagem que o
apresentador da Record encarnou na época do SBT.
Estilo de narrativa no qual
reportagem e repórter se misturam, o jornalismo gonzo se
encontrou com o jornalismo de
"denúncia social" e, juntos, deram o tom à estreia de "A Liga"
(terça, às 22h15, classificação
não informada), na Band. O
programa teve média de seis
pontos no Ibope, índice considerado bom para o horário.
Ele segue formato criado pela produtora argentina Eyeworks - Cuatro Cabezas, a mesma que desenvolveu o "CQC",
também da Band.
"A Liga" pretende explorar,
em cada programa, um tema
atual e polêmico. A ideia é que
os apresentadores "vivenciem"
as reportagens, que sejam "mutantes", com o direito de assumir o lugar dos entrevistados.
O principal deles é o "CQC"
Rafinha Bastos. Em "A Liga",
apareceu repaginado. No lugar
do terno preto, uniforme dos
integrantes do humorístico, do
cabelinho e da barba milimetricamente acertados, surgiu aos
trapos, barbudo e cabeludo.
Durante 24 horas, mendigou
pelas ruas de SP. Tentou dormir ao relento. Não conseguiu.
O MC Thaíde "colou" num
casal (um rapaz e uma travesti)
que tomava banho de torneira
no cemitério do Araçá.
Modelo, lutadora de jiu-jítsu
e publicitária, Débora Villalba
acompanhou um grupo de meninos de rua no Rio.
Na avenida Paulista, coube à
atriz Tainá Muller seguir os
passos de um casal com dois filhos sem endereço fixo.
Comer, dormir, sentir na
própria carne as dificuldades
de quem vive sem teto. Até aí,
OK, mas o programa peca
quando exagera na "vitimização" dos personagens.
Rafinha, o barbudão com cara de mocinho bem-criado, dirige-se à câmera para contar
sobre as agruras do repórter-mendigo. Chora ao lembrar, no
momento de despedida, que os
mendigos de verdade enfrentariam tudo outra vez.
Logo após a estreia da Band,
o "Profissão Repórter" exibiu
um programa sobre dependentes de crack. A maratona do vício trouxe entrevistas e impressões de repórteres, relatos
emotivos e até lágrimas -dos
entrevistados. Ali, sim, deu liga.
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