São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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Comentário

"A Liga" erra ao vitimizar personagens

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pense num "Profissão Repórter" (Globo) no qual os profissionais fazem as vezes de protagonistas da reportagem. Se o tema do programa for a vida dos moradores de rua, lá vão eles perambular dia e noite sem destino certo. Incorpore ao elenco um Gugu travestido de mendigo, personagem que o apresentador da Record encarnou na época do SBT.
Estilo de narrativa no qual reportagem e repórter se misturam, o jornalismo gonzo se encontrou com o jornalismo de "denúncia social" e, juntos, deram o tom à estreia de "A Liga" (terça, às 22h15, classificação não informada), na Band. O programa teve média de seis pontos no Ibope, índice considerado bom para o horário.
Ele segue formato criado pela produtora argentina Eyeworks - Cuatro Cabezas, a mesma que desenvolveu o "CQC", também da Band.
"A Liga" pretende explorar, em cada programa, um tema atual e polêmico. A ideia é que os apresentadores "vivenciem" as reportagens, que sejam "mutantes", com o direito de assumir o lugar dos entrevistados.
O principal deles é o "CQC" Rafinha Bastos. Em "A Liga", apareceu repaginado. No lugar do terno preto, uniforme dos integrantes do humorístico, do cabelinho e da barba milimetricamente acertados, surgiu aos trapos, barbudo e cabeludo. Durante 24 horas, mendigou pelas ruas de SP. Tentou dormir ao relento. Não conseguiu.
O MC Thaíde "colou" num casal (um rapaz e uma travesti) que tomava banho de torneira no cemitério do Araçá.
Modelo, lutadora de jiu-jítsu e publicitária, Débora Villalba acompanhou um grupo de meninos de rua no Rio.
Na avenida Paulista, coube à atriz Tainá Muller seguir os passos de um casal com dois filhos sem endereço fixo.
Comer, dormir, sentir na própria carne as dificuldades de quem vive sem teto. Até aí, OK, mas o programa peca quando exagera na "vitimização" dos personagens.
Rafinha, o barbudão com cara de mocinho bem-criado, dirige-se à câmera para contar sobre as agruras do repórter-mendigo. Chora ao lembrar, no momento de despedida, que os mendigos de verdade enfrentariam tudo outra vez.
Logo após a estreia da Band, o "Profissão Repórter" exibiu um programa sobre dependentes de crack. A maratona do vício trouxe entrevistas e impressões de repórteres, relatos emotivos e até lágrimas -dos entrevistados. Ali, sim, deu liga.


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