UOL


São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Após seis anos sem fazer shows, cantora lança "Acústico MTV", com a inédita "Sugar", e se afasta de "elitismo"

Marina Lima tenta "refazer elo com Brasil"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O "Acústico MTV" desta vez é de Marina Lima, 47, e a própria artista admite que sentiu desconforto e hesitação em se engajar no projeto de revisão de sucessos em versão desligada da tomada.
"Se eu não tivesse me ausentado e ficado seis anos sem fazer show, talvez não fizesse esse tipo de trabalho. Fiquei um pouco desconfortável a princípio, com medo de me revisitar, de isso ser um retrocesso", explica, afirmando que não possui todos os seus próprios discos e que não se interessa pelo próprio passado.
Por que, então? Marina diz que pensou em sua ausência no final dos anos 90, quando passou por problemas vocais de fundo psicológico, e na interrupção de comunicação que tal ausência provocou para público brasileiro. "Esse é um projeto vitorioso, a menina dos olhos da MTV. Mesmo com a crise do disco, agrada a qualquer classe social", ela reconhece.
E conclui: "É uma forma de eu conseguir fazer de novo um elo com o Brasil e com o povo brasileiro. Não quero ser uma cantora de elite, se isso acontecer terá fracassado minha profissão".
Seu "Acústico" segue o formato MTV: uma maioria de sucessos retirados de alguns de seus 16 discos, um ou outro lado B (como "Prestes a Voar", de 87), convidados especiais (Martinho da Vila, Fernanda Porto, Alvin L., o baixista Liminha), poucas inéditas.
Falando dessas últimas, Marina explicita o contraste entre a direção mais eletrônica que sua carreira vem tomando e a necessidade de ser acústica no show, CD e DVD para a MTV.
O contraste acomete, por exemplo, a inédita "Sugar", que foi testada nas rádios sem maiores repercussões -e a versão de "Fullgás" (84) já tomou seu lugar nas "hit parades" radiofônicas.
""Sugar" é uma balada toda eletrônica, toda vazia. Foi para o "Acústico" e ficou uma balada babada, de que não gosto. Gosto da música, mas não naquele formato", autocritica-se.
Se o mundo ficou mais eletrônico em anos recentes, ficou também mais visual -é nesse raciocínio que ela se apóia para, uma vez mais, justificar o enlace com o projeto.
"Antes você enlouquecia as pessoas só com a audição, agora o mundo ficou muito visual. Há muita sedução, muito truque. O sistema ficou aprisionador, o mundo mudou. Você pode negar ou ficar louco, mas eu gosto de viver nesta época. Estou no jogo. Será meu primeiro DVD", diz.
Outro tipo de contraste acontece no convite a Martinho da Vila, que até canta um trecho de sua "Tom Maior" (68), mas está ali mais para apresentar o samba moderno (e inédito) "Arco de Luz", de Marina com seu irmão Antonio Cícero.
"Quis mostrar ao Martinho que o convite não era uma coisa oportunista. Ele é um mestre, um professor, há muitos anos eu queria chamá-lo para fazer alguma coisa", afirma Marina.
"Não me rendi ao formato, e a MTV me deixou à vontade para eu fazer como eu queria", justifica a artista, referindo-se também ao fato de seu "Acústico" não usar orquestras de cordas habituais nesses especiais. "Eles me disseram que às vezes até fazem sugestões ao artista, mas que aquele não era o meu caso."
Por essas brechas, diz, pôde domar o desconforto e a hesitação iniciais mencionados. "Minha preocupação foi achar um denominador comum, pelo qual não me sentisse traída nem traísse as pessoas da MTV."



Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Crítica: Disco baila no fio da navalha
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.