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CINEMA
Carta-protesto contra concentração de verba federal destinada a produções da região Sudeste deve ser divulgada hoje
Cine Ceará chega ao fim com polêmica anunciada
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
É a noite da polêmica anunciada. O 15º Cine Ceará chega hoje ao
fim, com a promessa de agitar (de
novo) a discussão sobre a distribuição de patrocínio estatal à produção cinematográfica.
Na abertura da mostra, na última sexta, o diretor do festival,
Wolney Oliveira, disse que na cerimônia de encerramento seria
divulgada carta de profissionais
do Norte e do Nordeste do país
em reação ao recente encontro de
cineastas e produtores do Rio e de
São Paulo com o ministro José
Dirceu (Casa Civil).
O grupo do Sudeste sustenta
que o investimento estatal no cinema seria mais eficiente sem
"pulverização" -com mais dinheiro para menos filmes.
Oliveira entende a sugestão como tentativa de concentrar a verba federal nas mãos do chamado
"cinemão" -cineastas de renome, interessados em fazer filmes
grandes em orçamento e público.
O "cinemão" é antípoda do "cineminha" -caracterizado por
diretores pouco conhecidos, afastados do eixo Rio-SP, que se dizem adeptos do cinema de autor e
de pesquisa, ainda que à custa do
fracasso de bilheteria.
Mini flashback: em 2003, a política de patrocínios do governo
Lula da Silva resultou na polêmica
do "dirigismo cultural". Parte do
setor cinematográfico protestou
contra critérios formulados pela
Secretaria de Comunicação (Luiz
Gushiken) que exigiam "contrapartidas sociais" dos projetos a
serem patrocinados.
A escolha dos beneficiados também levaria em conta sua afinidade com programas federais, como
o "Fome Zero".
A gritaria tirou Gushiken da cena e levou à revisão da política de
patrocínio federal pelo MinC (Ministério da Cultura) de Gilberto
Gil. O MinC era contra os critérios
de Gushiken, mas defendeu a distribuição descentralizada de recursos, como expressão da democratização do acesso ao cofre federal.
A discórdia atual, resumida na
alcunha da "pulverização", significa concretamente o retorno do
debate sobre critérios de concessão de patrocínio -mecanismo
que impulsiona a produção de cinema no Brasil.
A premiação dos filmes em
competição no Cine Ceará também é passível de polêmica. Três
documentários e quatro ficções
disputam os prêmios do júri.
A reação do público foi igualmente calorosa para os títulos de
ambos os gêneros, exceção feita
ao filme paraibano "Por 30 Dinheiros" (Vânia Perazzo e Ivan
Hlebarov), cuja sessão terminou a
1h30 de domingo, com um Cine
São Luiz quase vazio.
O cineasta Sergio Bianchi
("Quanto Vale ou É Por Quilo?")
decidiu deixar Fortaleza, depois
de se desentender com a crítica,
no debate sobre seu filme, inscrito
na disputa.
Carlos Reichenbach, que compete com "Bens Confiscados",
permaneceu na cidade. Em 2003,
chamado a receber o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília, por "Garotas do ABC", Reichenbach se irritou com a pouco
cortês justificativa dada à escolha
- ao premiar "o argumento", o
júri deu a entender que homenageava a intenção do cineasta, não
o filme que ele de fato realizou.
Independentemente da temperatura dos discursos desta noite,
um show de confraternização está
previsto para depois da premiação. O músico baiano Riachão e as
ceguinhas de Campina Grande,
personagens do documentário
em competição "A Pessoa É para
o que Nasce", de Roberto Berliner, prometem incendiar a praça
-de música.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do 15 Cine Ceará
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