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"Trindade" põe moral paterna em xeque
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulista radicado no Rio,
Caio de Andrade, 45, escreve
para teatro desde o início da década. Suas peças apresentam
pano de fundo histórico. É o caso de "Trindade", primeiro texto em palco paulistano, sob direção do próprio, a partir de hoje no teatro Aliança Francesa.
O contexto é o da disputa entre os segmentos civil e militar
no início da República. Em
1909, a sucessão presidencial é
disputada pelo marechal Hermes da Fonseca e pelo escritor
Rui Barbosa, derrotado.
"Era um momento de confusão política, vários poderes tentavam se estabelecer. Era a
chance para falcatruas", diz Andrade. Espetáculo carioca de
2004, remontado para a nova
temporada, "Trindade" põe em
relevo o drama do jovem médico Emílio (Pedro Neschling).
Criado pela família de um general (Luciano Chirolli), o rapaz se depara com o pai natural
(Guilherme Leme), que dava
por morto. Sabe-se depois, virou militante da causa operária. Encontros clandestinos expõem os conflitos. Para Andrade, a configuração é brechtiana,
à la "O Círculo de Giz Caucasiano", que põe em xeque os direitos da mãe que dá à luz sobre
aquela que cria.
"O personagem vive o dilema
entre o general que o criou e o
pai que foi lutar por um mundo
melhor. Estão em jogo também
os limites que a história impõe
a cada pessoa", diz o autor.
Chirolli, 45, ilustra o assunto
com uma citação de Sartre:
"Você é aquilo que você faz do
que fizeram de você".
Para Leme, 46, que vive o pai
em identidade dupla, a peça
constata que transformações se
dão a partir do questionamento
individual da ordem e das instituições. A Neschling, 25, coube
estabelecer a trilha, angústia
juvenil sintonizada em bandas
como Muse e Radiohead.
TRINDADE
Quando: estréia hoje, às 22h; sáb., às
22h; dom., às 20h; até 29/7
Onde: teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, tel. 0/xx/11/3188-4141)
Quanto: R$ 20
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