São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Livros

Obra reúne crônicas de João Pereira Coutinho

"Avenida Paulista", lançado em Portugal, traz artigos publicados pela Folha

Autor, que trata de cultura e política em seus textos, diz que "rouba impunemente" estilo dos brasileiros Paulo Francis e Nelson Rodrigues

DA REPORTAGEM LOCAL

O português João Pereira Coutinho, 31, estreou como colunista da Folha em 2005. Primeiro na Folha Online, depois na Ilustrada, seus textos tratam de cultura e política e fazem uma inusitada conexão entre Europa e Brasil. Em "Avenida Paulista", que é agora publicado em Portugal pela editora Quasi (www.quasi.com.pt), mas não tem previsão para sair por aqui, está uma coletânea de textos escolhidos pelo autor. (SYLVIA COLOMBO)

 

FOLHA - Quando você começou a escrever crônicas para o público brasileiro, como as imaginou?
JOÃO PEREIRA COUTINHO -
Pensei em leitores chorando de gratidão, matrimônios desfeitos por ciúmes bobos, cartas de amor desesperadas. Não aconteceu. Mas eu continuo a tentar, começando do zero todas as semanas. O objetivo é o mesmo: divertir, informar, enfurecer e conquistar o leitor. No fundo, eu só quero ser amado [risos].

FOLHA - Em que as crônicas para o Brasil diferem de suas colunas para jornais portugueses?
COUTINHO -
Não existem grandes diferenças, vou escrevendo opinião e crônica, dois gêneros distintos, de acordo com o humor do momento. Quando estou deprimido, escrevo crônicas. Quando estou ainda mais deprimido, escrevo opinião. A única diferença talvez esteja nos tribunais. Ainda não conheço os do Brasil, porque impus a mim mesmo que não iria escrever sobre o país, por uma questão de gentileza. Mas não é fácil resistir à tentação.

FOLHA - Quantas colunas você publica por semana, aqui e aí?
COUTINHO -
É mais fácil falar do número de colunas que escrevo por mês. São 14, repartidas pelo jornal português "Expresso", pelas revistas, também portuguesas, "Atlântico" e "Nova Cidadania", e pela Folha. Sou um escravo da caneta e a minha única sorte é nunca ter faltado assunto e escrever sempre na cama. Aliás, não consigo escrever em mais lado nenhum. Já pensei em trabalhar diretamente nas Redações daqui, mas, quando me proibiram de levar a cama para lá, desisti.

FOLHA - Quais jornalistas e autores admira mais?
COUTINHO -
Admiro a todos os que me permitiram roubar impunemente. Nesse sentido, roubei muito ao jornalismo brasileiro e ao anglo-saxônico, que fizeram e desfizeram a minha cabeça porque eram leitura na casa paterna.
Roubei ao Paulo Francis, ao Nelson Rodrigues, ao Ivan Lessa, ao Mainardi. Roubei ao Mencken, ao Jeff Bernard e à família Waugh -o pai Evelyn e o filho Auberon.
Com o Brasil, aprendi a importância da contundência. Os britânicos temperaram tudo com um certo gosto pela anarquia e pelo absurdo. Tem sido um casamento feliz até hoje.


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