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"Nomes ainda são um problema", diz autor
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador e crítico de arquitetura britânico Adrian
Forty, 21 anos após ter lançado
"Objetos de Desejo", sente-se
aliviado com sua revisão crítica
do design, que agora ganha edição brasileira pela Cosacnaify.
""Objetos de Desejo" foi feito
para atacar dois mitos -um,
que o design fala somente sobre
a boa forma; o outro, que o design é puramente um assunto
sobre o que os designers fazem.
Que o nível de discussão sobre
design não mais se apóie nessas
crenças equivocadas é um alívio para mim. E me agradaria se
o meu livro tiver ajudado a trazer essa mudança", diz ele, em
entrevista à Folha por e-mail.
Professor de história da arquitetura na Escola de Arquitetura Bartlett, em Londres,
Forty, em "Objetos...", inovou
na leitura crítica do design, trazendo a história social para
uma área que, anteriormente,
parecia apenas constituída por
nomes (em geral cultuados),
movimentos e projetos.
"Em particular no Reino
Unido, o estudo do design e de
sua história sofre de uma forma de lobotomia cultural que o
deixou ligado apenas aos olhos
e cortou suas conexões com o
cérebro e o bolso", dispara ele
na introdução do livro.
Para Forty, isso mudou. "Em
parte isso aconteceu porque
pensadores de peso como Fredric Jameson começaram a levar a sério a arquitetura e o design, reconhecendo que prédios e objetos não estão fora da
política, mas são sim parte de
um aparato ideológico", avalia.
Designers-operários
Em seu livro, o crítico aproxima os processos de trabalho da
Revolução Industrial com o desenvolvimento do design, produzido por funcionários de fábricas que não gravaram seu
nome na tradicional história da
arte. Um dos casos levantados
por ele é o da produção da cerâmica na Inglaterra do começo
do século 19.
"A atividade a que se dedicavam homens como Raymond
Loewy e Henry Dreyfuss [designers clássicos que fizeram
carreira nos EUA] existia em
certas indústrias havia mais de
um século (...) A natureza do
trabalho deles, ao fundir idéias
com técnicas de manufatura,
era idêntica à dos humildes
modeladores das cerâmicas de
Wedgwood", destaca ele em
sua publicação.
"Nomes ainda são um problema no design. Uma escova
de dentes desenhada por Philippe Starck, por exemplo, carrega um prêmio em relação a
escovas ordinárias. Há também
um crescimento do mercado de
"antigüidades modernas" [os
produtos "vintage']", afirma.
Apesar de sua importância,
"Objetos de Desejo" não antecipa as profundas alterações
que viriam com o computador e
com a internet.
"O livro foi escrito antes do
nascimento da internet e do desenvolvimento da cultura digital. Eu estava totalmente sem
consciência do impacto que os
dois elementos poderiam ter
no trabalho e no relacionamento com a realidade", admite.
Arquitetura brasileira
Forty tem ligações fortes
com a arquitetura brasileira.
Foi organizador de um extenso
volume da editora britânica
Phaidon, junto de Elisabetta
Andreoli: "Arquitetura Moderna Brasileira". No livro, destacou novos nomes do cenário
brasileiro na área, como os escritórios Una, MMBB e Brasil
Arquitetura. Ele também está
estudando a utilização do concreto na produção brasileira.
"Houve algumas mudanças
no status da arquitetura brasileira na cena mundial. O Pritzker dado a Mendes da Rocha
certamente foi importante.
Mas eu ainda tenho a impressão de que o Brasil persiste um
tanto isolado em termos de cultura arquitetônica", acredita.
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