São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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"Nomes ainda são um problema", diz autor

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador e crítico de arquitetura britânico Adrian Forty, 21 anos após ter lançado "Objetos de Desejo", sente-se aliviado com sua revisão crítica do design, que agora ganha edição brasileira pela Cosacnaify.
""Objetos de Desejo" foi feito para atacar dois mitos -um, que o design fala somente sobre a boa forma; o outro, que o design é puramente um assunto sobre o que os designers fazem. Que o nível de discussão sobre design não mais se apóie nessas crenças equivocadas é um alívio para mim. E me agradaria se o meu livro tiver ajudado a trazer essa mudança", diz ele, em entrevista à Folha por e-mail.
Professor de história da arquitetura na Escola de Arquitetura Bartlett, em Londres, Forty, em "Objetos...", inovou na leitura crítica do design, trazendo a história social para uma área que, anteriormente, parecia apenas constituída por nomes (em geral cultuados), movimentos e projetos.
"Em particular no Reino Unido, o estudo do design e de sua história sofre de uma forma de lobotomia cultural que o deixou ligado apenas aos olhos e cortou suas conexões com o cérebro e o bolso", dispara ele na introdução do livro.
Para Forty, isso mudou. "Em parte isso aconteceu porque pensadores de peso como Fredric Jameson começaram a levar a sério a arquitetura e o design, reconhecendo que prédios e objetos não estão fora da política, mas são sim parte de um aparato ideológico", avalia.

Designers-operários
Em seu livro, o crítico aproxima os processos de trabalho da Revolução Industrial com o desenvolvimento do design, produzido por funcionários de fábricas que não gravaram seu nome na tradicional história da arte. Um dos casos levantados por ele é o da produção da cerâmica na Inglaterra do começo do século 19.
"A atividade a que se dedicavam homens como Raymond Loewy e Henry Dreyfuss [designers clássicos que fizeram carreira nos EUA] existia em certas indústrias havia mais de um século (...) A natureza do trabalho deles, ao fundir idéias com técnicas de manufatura, era idêntica à dos humildes modeladores das cerâmicas de Wedgwood", destaca ele em sua publicação.
"Nomes ainda são um problema no design. Uma escova de dentes desenhada por Philippe Starck, por exemplo, carrega um prêmio em relação a escovas ordinárias. Há também um crescimento do mercado de "antigüidades modernas" [os produtos "vintage']", afirma.
Apesar de sua importância, "Objetos de Desejo" não antecipa as profundas alterações que viriam com o computador e com a internet.
"O livro foi escrito antes do nascimento da internet e do desenvolvimento da cultura digital. Eu estava totalmente sem consciência do impacto que os dois elementos poderiam ter no trabalho e no relacionamento com a realidade", admite.

Arquitetura brasileira
Forty tem ligações fortes com a arquitetura brasileira. Foi organizador de um extenso volume da editora britânica Phaidon, junto de Elisabetta Andreoli: "Arquitetura Moderna Brasileira". No livro, destacou novos nomes do cenário brasileiro na área, como os escritórios Una, MMBB e Brasil Arquitetura. Ele também está estudando a utilização do concreto na produção brasileira.
"Houve algumas mudanças no status da arquitetura brasileira na cena mundial. O Pritzker dado a Mendes da Rocha certamente foi importante. Mas eu ainda tenho a impressão de que o Brasil persiste um tanto isolado em termos de cultura arquitetônica", acredita.


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