São Paulo, terça, 9 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice FOTOGRAFIA Marginalizados se revelam em fotos
EDER CHIODETTO Editor-adjunto de Fotografia É possível fotografia e pintura, juntas, tocarem o recôndito do inconsciente para trazer à tona uma identidade perdida? Essa é a questão que a fotógrafa Evelyn Ruman tenta responder com o lançamento do livro e da exposição "Autoimagen Marginal", hoje, no MIS (Museu da Imagem e do Som). Durante quatro anos a fotógrafa paulistana se dedicou a fotografar em Santiago, no Chile, mulheres do Instituto Psiquiátrico José Barack e meninas de rua envolvidas com violência doméstica, prostituição, assaltos e drogas. Após fazer as fotos, Ruman propunha que as fotografadas pintassem suas próprias imagens. Nessa etapa a fotógrafa, que estudou cromoterapia, conduzia o processo fazendo com que as mulheres identificassem seus estados de ânimo nas cores. "As mulheres do instituto psiquiátrico não se reconheciam nas fotos. A memória era do rosto que tinham na infância ou na época da internação", diz Ruman. Após o choque, as pacientes atribuíam novas cores e sentidos ao rosto, às roupas e ao fundo. Como resultado imediato desse trabalho, muitas das pacientes resgataram parte da auto-estima. Foi como se elas tivessem se livrado das sobreposições de roupas e da maquiagem borrada ao transferi-las para a fotografia. "Ao valorizar a individualidade das mulheres, a gente acabava agindo na contramão da instituição, onde a tendência é homogeneizar o comportamento das pessoas, com uso de medicação", conta Ruman. Com as garotas de rua o resultado foi outro. Elas se pintaram mais sensuais, com faces alvas, lábios carmim e olhos delineados, o que acabou deixando todas parecidas. Estranho pensar que, enquanto aquelas consideradas "loucas" buscam a diferenciação, a identidade, essas, consideradas "sadias", caminham em direção à uniformização. Abismos pessoais Utilizar também intervenções com pintura na fotografia, só que nesse caso para redimensionar o cotidiano, é o que a fotógrafa Avani Stein tem feito, conseguindo um resultado estético tão interessante quanto o de Ruman. Sem data definida para expor, Stein segue acumulando vasto material onde os personagens principais são sua casa, seus amigos e seu cachorro. Ao atribuir novas dimensões ao ambiente e às pessoas que a rodeiam, é como se Stein abrisse um vasto campo de significações, onde tudo e todos passam a ser plurais e gozam do direito à falta de lógica linear. Como no trabalho de Ruman, é o caso de agregar a loucura, não de renegá-la. O quê: exposição e lançamento do livro "Autoimagen Marginal", de Evelyn Ruman Lançamento: LOM Ediciones Onde: MIS - Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, tel. 011/852-9197) Quando: vernissage hoje, às 20h; de amanhã a 28 de junho, das 14h às 22h Quanto: o livro, R$ 15 (80 págs.) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
|