São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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MÚSICA

Tomoyasu Hotei, revelado por Quentin Tarantino na trilha de "Kill Bill", tenta furar isolacionismo em novo disco

Guitarrista japonês "invade" Ocidente

Divulgação
O japonês Tomoyasi Hotei, que lança 'Electric Samurai"


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Há um samurai prestes a declarar guerra ao mundo ocidental. Saído diretamente de "Kill Bill -°Vol. 1", de Quentin Tarantino, Tomoyasu Hotei, 42, empunha uma guitarra no lugar da espada.
Mas, desta vez, não haverá nenhuma Uma Thurman para impedi-lo. A guerra, no entanto, não vai derramar sangue. Hotei pretende arrancar, com solos rock'n'roll de seu disco "Electric Samurai", pedacinhos da atenção da platéia ocidental.
"Não sonho com estádios cheios. Mas quero tocar minha guitarra pelo mundo, diante dos olhos das pessoas", diz o japonês em entrevista por e-mail à Folha.
Ambigüidade é o que move as escolhas de Quentin Tarantino. Uma de suas especialidades é dar uma segunda chance para carreiras que pareciam perdidas, como aquelas de John Travolta e Daryl Hannah. Fé no talento dessa gente ou pura tiração de sarro?
Hotei é o novo nome dessa lista. É dele a música mais famosa de "Kill Bill", "Battle without Honor or Humanity". Com ela, os trailers do filme fizeram as platéias do mundo babarem de ansiedade pelo longa; e é ela também que marca a entrada triunfal de Lucy Liu na história. Ou seja, "Battle" virou item indissociável do culto a "Kill Bill". "Parece que Tarantino e o diretor Robert Rodriguez ["Era uma Vez no México'] disputaram a música após ouvi-la. É uma espécie de "007 encontra "Trainspotting'", diz Hotei. "Tarantino apreciou o som da guitarra e o ritmo. Certo dia, veio a oferta. Claro que fiquei surpreso, mas também pensei: "Chegou finalmente!"."
Mas, ao contrário de outros astros a que Tarantino deu uma força, Hotei é praticamente desconhecido no Ocidente. No Japão, é um popular guitarrista, um pop star com quase 20 anos de estrada.
Hotei começou sua carreira musical nos anos 80, quando tocava no Boowy, um dos principais grupos japoneses de rock do período. Após iniciar carreira solo, partiu para o cinema, como ator e diretor musical. "Battle without Honor or Humanity" foi composta para um filme homônimo japonês de 2000 sobre gângsters.
Hotei diz que tal currículo não facilitou a entrada no mercado ocidental. "Creio que a língua seja um grande problema. Falta uma globalização da música e de outras coisas no Japão", afirma o guitarrista. "Está enraizada uma idéia de que, como o mercado japonês é gigante, é melhor o artista tentar atingir esse mercado em vez de outros países." Hotei acredita que "Battle" foi mais longe por ser instrumental. "Acredito que essa composição teve apelo no mundo por causa do som, que ultrapassou a barreira da língua."
Há um clichê caro ao Japão -nesse país, tudo funcionaria ao contrário- que, neste caso, torna-se válido. "Estranhamente, a reação dos japoneses à trilha sonora foi fria. Não sei o que aconteceu." Mas seu objetivo foi alcançado. "Com a trilha, minha música chegou a Inglaterra, EUA, Espanha, Itália, França, Brasil etc. As portas foram abertas. Chegar até aqui demorou bastante."
Não é a primeira vez que ele busca novos mercados. Tentativas anteriores incluem parcerias com Ray Cooper na trilha de "Medo e Delírio" [filme de Terry Gilliam], Sigue Sigue Sputnik, Apolo 440 e outros. Isso sem contar que já foi integrante do Asia. "Conheci a banda quando eu estava em Londres e ganhei a fama de engraçado. De repente, fui chamado para tocar com eles."
Em "Electric Samurai", que é lançado agora no Reino Unido, há mais duas partes para "Battle" e músicas que abarcam influências do rock ao big beat, algumas com um pé no kitsch. Há ainda uma bizarra versão para "Immigrant Song", do Led Zeppelin, feita com o DJ Darren Price. Nada estranho para alguém que, aos 17 anos, queria fazer parte do Kraftwerk, ter o estilo de Ray Parker na guitarra e roupas de Marc Bolan.
O texto de apresentação do disco à imprensa, escrito por Hotei, diz: "Um complexo de inferioridade vindo do conhecimento de que não somos originais faz os japoneses mais suscetíveis à expressão "número 1 nos EUA'". O que isso quer dizer, Hotei? "O rock no Japão começou com uma maior ocidentalização, no pós-guerra; não posso jogar fora o que me influenciou. Se eu tivesse vivido na época de Jimi Hendrix, teria virado uma lenda maior que ele."

Tradução Tomoyuki Honda

ELECTRIC SAMURAI. Artista: Tomoyasu Hotei. Lançamento: EMI. Quanto: 9,99 libras (importado, cerca de R$ 56,50). Onde encontrar: www.amazon.co.uk.


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