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Violino faz sucesso, e sax é "escandaloso"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O violino é o instrumento
mais disputado nas seleções da
Escola Municipal de Música. A
cada ano, são 30 candidatos por
vaga.
Para o diretor da escola, Henrique Autran Dourado, a procura é explicada pela demanda de
mercado, já que se trata do instrumento mais numeroso nas
orquestras sinfônicas, e 20 dos
32 violinistas da Osesp, por
exemplo, são estrangeiros.
Um violino "made in China"
ou usado, para iniciantes, custa
R$ 250. Já os que servem para
alunos adiantados saem por pelo menos R$ 5.000. O diretor
Autran Dourado recomenda
não adquirir "porcaria".
"É como comprar um Fusca
para correr a Fórmula 1. Serve
para aprender a dirigir, mas
nunca vai pegar a pole."
Dos alunos da Escola Municipal de Música que também
são fiéis da Congregação Cristã
no Brasil, a maioria é violinista.
Tataraneto de um fundador
da igreja, André Veci Baptista,
16, é exceção. Ele estuda saxofone, instrumento malvisto na
igreja por ser, segundo o garoto,
associado a "barzinhos e a madrugadas".
O pai de André, o luthier (fabricante de instrumentos musicais) Moisés Baptista, 38, teve
de enfrentar o ancião -autoridade máxima da Congregação
Cristã no Brasil- para introduzir o sax na orquestra da igreja
da qual é regente.
Indecente
Além do sax, não há trombone de vara nem percussão nas
orquestras que tocam nos cultos da Congregação, onde os
instrumentos mais comuns, ao
lado do violino, são flauta
transversal, clarinete e bombardão (espécie de tuba). Fagote, oboé e violoncelo são permitidos, mas raros.
O regente da igreja José
-que não quis informar o sobrenome porque a Congregação Cristã proíbe a exibição nos
meios de comunicação- classifica de "escandalosos" o sax e o
trombone de vara. Este tem
uma válvula cilíndrica longa
que o músico desliza para produzir o som. "É indecente e barulhento como a percussão, típica do candomblé", afirma o
regente José.
Os "escandalosos" também
não são vendidos nas lojas de
instrumentos musicais pertencentes a seguidores da Congregação Cristã.
Há uma concentração delas
nos arredores do templo que fica no Brás (centro de São Paulo), a sede da Congregação.
Na Garcia & Nabarrete, a
maior parte da clientela é formada por "gente da igreja", informa Epaminondas Garcia,
38, um dos proprietários.
A loja vende marcas conhecidas e instrumentos de luthiers
da Congregação, como Moisés
Baptista, que é autodidata.
"Iniciei-me na lutheria para
consertar meus próprios instrumentos porque a manutenção é muito cara."
(DF)
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