São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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Violino faz sucesso, e sax é "escandaloso"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O violino é o instrumento mais disputado nas seleções da Escola Municipal de Música. A cada ano, são 30 candidatos por vaga.
Para o diretor da escola, Henrique Autran Dourado, a procura é explicada pela demanda de mercado, já que se trata do instrumento mais numeroso nas orquestras sinfônicas, e 20 dos 32 violinistas da Osesp, por exemplo, são estrangeiros.
Um violino "made in China" ou usado, para iniciantes, custa R$ 250. Já os que servem para alunos adiantados saem por pelo menos R$ 5.000. O diretor Autran Dourado recomenda não adquirir "porcaria".
"É como comprar um Fusca para correr a Fórmula 1. Serve para aprender a dirigir, mas nunca vai pegar a pole."
Dos alunos da Escola Municipal de Música que também são fiéis da Congregação Cristã no Brasil, a maioria é violinista.
Tataraneto de um fundador da igreja, André Veci Baptista, 16, é exceção. Ele estuda saxofone, instrumento malvisto na igreja por ser, segundo o garoto, associado a "barzinhos e a madrugadas".
O pai de André, o luthier (fabricante de instrumentos musicais) Moisés Baptista, 38, teve de enfrentar o ancião -autoridade máxima da Congregação Cristã no Brasil- para introduzir o sax na orquestra da igreja da qual é regente.

Indecente
Além do sax, não há trombone de vara nem percussão nas orquestras que tocam nos cultos da Congregação, onde os instrumentos mais comuns, ao lado do violino, são flauta transversal, clarinete e bombardão (espécie de tuba). Fagote, oboé e violoncelo são permitidos, mas raros.
O regente da igreja José -que não quis informar o sobrenome porque a Congregação Cristã proíbe a exibição nos meios de comunicação- classifica de "escandalosos" o sax e o trombone de vara. Este tem uma válvula cilíndrica longa que o músico desliza para produzir o som. "É indecente e barulhento como a percussão, típica do candomblé", afirma o regente José.
Os "escandalosos" também não são vendidos nas lojas de instrumentos musicais pertencentes a seguidores da Congregação Cristã.
Há uma concentração delas nos arredores do templo que fica no Brás (centro de São Paulo), a sede da Congregação.
Na Garcia & Nabarrete, a maior parte da clientela é formada por "gente da igreja", informa Epaminondas Garcia, 38, um dos proprietários.
A loja vende marcas conhecidas e instrumentos de luthiers da Congregação, como Moisés Baptista, que é autodidata. "Iniciei-me na lutheria para consertar meus próprios instrumentos porque a manutenção é muito cara." (DF)


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