São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Complexo dos Latinos

Destaque de festival que começa na segunda em SP, o cineasta argentino Marcelo Piñeyro critica a tendência ao cinema "nanico" nos países da região

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

O argentino Marcelo Piñeyro é daqueles que fazem sucesso. E que pagam certo preço por isso. "Os latinos ainda têm tendência a encarar as diferenças no cinema como um jogo de futebol entre Brasil e Argentina, em que um perde e outro ganha."
Em entrevista à Folha, Piñeyro diz que alguns cineastas da região tendem a olhar para o filme de sucesso como se ele atrapalhasse a existência da produção autoral.
"O cinema latino só manterá a força se entender que diferentes modos de produção e diferentes estéticas têm de coexistir", afirma, contrariado com a discussão que se arrasta há anos.
Piñeyro, não por acaso, foi o escolhido pelo 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo para receber uma homenagem na edição que procura rever a "retomada" cinematográfica da região por meio dos títulos mais marcantes da década.
O diretor de "Kamtchatka" (2003) e "O Método" (2005) está na ala dos latinos que não temem assumir-se "comerciais", como o brasileiro Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") e o também argentino -e oscarizado- Juan José Campanella ("O Segredo dos seus Olhos").
"Não tenho a exata medida de como meus filmes são vistos pela crítica e pelo público", diz Piñeyro, que tende a vender um bom número de ingressos, mas está longe de ser um dos queridinhos da crítica em seu país. "O que sei é que a maioria teve boa difusão internacional, alguns com ótima repercussão."

PÉ NA EUROPA
Uma característica comum a quase todos os filmes de Piñeyro é a presença de dinheiro europeu na produção. "O Método", um ataque feroz ao mundo corporativo, foi, inclusive, rodado na Espanha.
"Sem essas coproduções, eu não teria condições de fazer filmes com a mesma estrutura", admite. Seu mais novo trabalho, "As Viúvas das Quintas-Feiras", que será exibido no Festival, também tem dinheiro espanhol.

DÍPTICO
"Esses dois filmes formam uma espécie de díptico", explica. Ambos colocam em quadro personagens ligados ao mundo corporativo.
"São retratos distintos, mas complementares, desses gerentes de multinacionais que se sentem sócios do poder e que, de repente, percebem que são apenas peões num tabuleiro de xadrez."
A despeito da temática que roça o social e o político, Piñeyro, raramente, é selecionado para os grandes festivais do mundo -aqueles que costumam garimpar um ou outro filme latino.
"Acho que, hoje, criou-se um novo gênero, que é o "filme de festival", ou seja, um tipo de filme que só existe para festivais", alfineta o cineasta.
"Os festivais têm suas equipes de burocratas que vivem de tentar achar o filme mais esquisito, mais difícil. Acho que isso não é bom para o cinema. Com filmes elitistas, inacessíveis, os festivais deixaram de ser uma caixa de ressonância do cinema", afirma.
O Festival Latino, ao contrário, exibirá não só os filmes cult, mas também os "blockbusteres" latinos que a última década conheceu.


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