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Complexo dos Latinos
Destaque de festival que começa na segunda em SP, o cineasta
argentino Marcelo Piñeyro critica a tendência ao cinema
"nanico" nos países da região
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
O argentino Marcelo Piñeyro é daqueles que fazem
sucesso. E que pagam certo
preço por isso. "Os latinos
ainda têm tendência a encarar as diferenças no cinema
como um jogo de futebol entre Brasil e Argentina, em que
um perde e outro ganha."
Em entrevista à Folha, Piñeyro diz que alguns cineastas da região tendem a olhar
para o filme de sucesso como
se ele atrapalhasse a existência da produção autoral.
"O cinema latino só manterá a força se entender que
diferentes modos de produção e diferentes estéticas têm
de coexistir", afirma, contrariado com a discussão que se
arrasta há anos.
Piñeyro, não por acaso, foi
o escolhido pelo 5º Festival
de Cinema Latino-Americano de São Paulo para receber
uma homenagem na edição
que procura rever a "retomada" cinematográfica da região por meio dos títulos
mais marcantes da década.
O diretor de "Kamtchatka"
(2003) e "O Método" (2005)
está na ala dos latinos que
não temem assumir-se "comerciais", como o brasileiro
Fernando Meirelles ("Cidade
de Deus") e o também argentino -e oscarizado- Juan José Campanella ("O Segredo
dos seus Olhos").
"Não tenho a exata medida de como meus filmes são
vistos pela crítica e pelo público", diz Piñeyro, que tende a vender um bom número
de ingressos, mas está longe
de ser um dos queridinhos da
crítica em seu país. "O que sei
é que a maioria teve boa difusão internacional, alguns
com ótima repercussão."
PÉ NA EUROPA
Uma característica comum
a quase todos os filmes de Piñeyro é a presença de dinheiro europeu na produção. "O
Método", um ataque feroz ao
mundo corporativo, foi, inclusive, rodado na Espanha.
"Sem essas coproduções,
eu não teria condições de fazer filmes com a mesma estrutura", admite. Seu mais
novo trabalho, "As Viúvas
das Quintas-Feiras", que será exibido no Festival, também tem dinheiro espanhol.
DÍPTICO
"Esses dois filmes formam
uma espécie de díptico", explica. Ambos colocam em
quadro personagens ligados
ao mundo corporativo.
"São retratos distintos,
mas complementares, desses
gerentes de multinacionais
que se sentem sócios do poder e que, de repente, percebem que são apenas peões
num tabuleiro de xadrez."
A despeito da temática que
roça o social e o político, Piñeyro, raramente, é selecionado para os grandes festivais do mundo -aqueles que
costumam garimpar um ou
outro filme latino.
"Acho que, hoje, criou-se
um novo gênero, que é o "filme de festival", ou seja, um tipo de filme que só existe para
festivais", alfineta o cineasta.
"Os festivais têm suas
equipes de burocratas que vivem de tentar achar o filme
mais esquisito, mais difícil.
Acho que isso não é bom para o cinema. Com filmes elitistas, inacessíveis, os festivais deixaram de ser uma caixa de ressonância do cinema", afirma.
O Festival Latino, ao contrário, exibirá não só os filmes cult, mas também os
"blockbusteres" latinos que
a última década conheceu.
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