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"Eu não estou me escondendo dos 70"
O septuagenário Ringo Starr festejou aniversário com um show na última quarta, no Radio City Music Hall, em NY
Ex-beatle afirma achar importante que discos da banda sejam ouvidos e diz não ligar para a aprovação do Vaticano
DAVE ITZKOFF
DO "NEW YORK TIMES"
Desde que prometeu, na
conhecida capa de "Act Naturally", de Buck Owens, que
se tornaria "o maior tolo a fazer sucesso em grande escala", o renomado baterista de
rock and roll Ringo Starr fez
tudo certo para alcançar isso.
Como membro dos Beatles
e como artista solo, Starr já
vendeu muitos discos, ganhou alguns Grammy e até
teve um pequeno planeta batizado com seu nome.
Na quarta-feira, Ringo
Starr atingiu um marco especial: completou 70 anos. Como se poderia esperar, ele celebrou a ocasião com alguma
ajuda de seus amigos e também de todo mundo que conseguiu reunir.
Estando em Nova York no
dia, ele comemorou em um
evento particular no Hard
Rock Café da Times Square.
À noite, Ringo fez um concerto no Radio City Music
Hall com sua All Starr Band,
que inclui Edgar Winter,
Gary Wright e Rick Derringer.
Ele conversou com o jornalista Dave Itzkoff sobre a chegada aos 70 e algumas outras
realizações. Seguem alguns
trechos do bate-papo.
Pergunta - O que você gostaria de ganhar no aniversário
deste ano?
Ringo Starr - Você sabe o
que estou pedindo: paz e
amor.
Como se sente em relação ao
número 70?
Na minha cabeça, tenho
24. O número é grande, sim.
Mas senti que preciso comemorá-lo. Estou em pé, faço o
que amo fazer. Eu não estou
me escondendo dos 70.
Quando você tinha 24 anos, o
que achava que estaria fazendo aos 70?
Quando eu tinha 22, tocava em outra banda. O pessoal
dela tinha 40, e eu disse:
"Meu Deus, vocês ainda estão tocando?" [ri]. Agora já
passei há muuuuuito tempo
dos 40. Meu novo herói é B.B.
King. Ele continua tocando,
só que sentado. A gente tem
de seguir adiante. Eu gostaria de estar me passando por
55, mas não tenho 55.
O que lhe parece uma idade
adiantada hoje?
Acho que 90 anos. Mas vamos ver. Vamos levando um
aniversário de cada vez.
O Metropolitan Museum of
Art está recebendo um de
seus tambores.
O velho Bill Ludwig me
deu a caixa de presente em
1964. Comprei essa bateria
da Ludwig, e o dono da loja
na Inglaterra queria tirar o
rótulo, mas eu o fiz deixá-lo e
virei mais ou menos um comercial ambulante. Para me
agradecer por isso, me deram
essa caixa de ouro que vai ficar com o Metropolitan.
Como você se sente, tendo
um objeto exposto no Met?
É bacana.
Só isso?
Estou falando a sério. O
Hall da Fama do Rock and
Roll já expôs algumas peças
de roupa minha.
O Hall da Fama do Rock não é
pouca coisa, mas estamos falando do Met.
É só o que posso dizer. Fiz
um show lá em janeiro com
Ben Harper, e eles têm uma
sala de instrumentos com
uns tambores africanos malucos, então acharam que seria legal incluir minha caixa.
Estão deixando você emprestar alguma coisa da coleção
deles em troca?
Sim, vão me ceder o túmulo de Tutancâmon. Não, não
vão me dar nada. Estou sendo bonzinho com eles.
Algumas semanas atrás o Vaticano finalmente anunciou
sua aprovação dos Beatles. O
que você achou disso?
Isso não me afetou de nenhuma maneira, mas acho
que o Vaticano deve ter coisas melhores a fazer. Não me
recordo o que foi dito de fato.
Nos perdoou por sermos o
quê, satânicos? Quem escreveu isso estava pensando
nos Rolling Stones.
Você se surpreende com as
maneiras como os Beatles
continuam na cultura pop? Há
um romance intitulado "Paul
Is Undead" que imagina você
como um ninja e seus colegas
de banda como zumbis.
Só vejo as capas e os títulos. Não leio tudo. Mas os
Beatles estão sempre presentes. Acho interessante que
nossos discos continuem a
sair. São os mesmos discos, e
a nova geração os ouve. Para
mim, isso é o mais importante. A música continua viva.
Você tem oportunidades de
ouvir todos os covers dos
Beatles que continuam a ser
produzidos?
Você tem de falar com a
[gravadora] Sony. Ela tem o
direito das canções e os dá a
qualquer um.
Você acha que temos boas
chances de conseguir paz e
amor neste ano?
Acho que, quanto mais
promovermos a ideia, mais
chances temos de conseguir.
Tradução de CLARA ALLAIN
AMANHÃ NA ILUSTRADA:
Antonio Cicero
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