São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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Aos 82, escritor concorre como estreante em prêmio

Hélio Pólvora escreveu 30 livros, mas só enveredou pelo romance em 2010

Volume "Inúteis Luas Obscenas" é um dos dez indicados ao Prêmio São Paulo na categoria romance de estreia

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

O escritor baiano Hélio Pólvora é a maior surpresa da lista de finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2011.
Pelo livro "Inúteis Luas Obscenas", ele é um dos indicados da categoria autor estreante em romance.
Se vai levar ou não a bolada de R$ 200 mil, maior valor pago por um prêmio literário no país, só saberemos no dia 1º de agosto.
De antemão, porém, pode-se afirmar que o baiano de Itabuna é o romancista de primeira viagem mais experiente do concurso.
Pólvora tem 82 anos e 30 livros publicados, incluindo crítica, crônicas e contos. Trabalhou em jornais de Salvador e do Rio e hoje é editorialista do baiano "A Tarde".
O primeiro livro, a coletânea de contos "Os Galos da Aurora", saiu em 1958. Dos concorrentes no Prêmio São Paulo, apenas Eduardo Giannetti já era nascido -e, ainda assim, tinha apenas um ano.
Sobre a estreia literária de Pólvora, o também escritor Adonias Filho (1915-1990), num artigo elogioso de 1958, profetizou que o contista "chegaria logo ao romance".
Não foi tão rápido assim. "Inúteis Luas Obscenas" só seria publicado em 2010, 52 anos depois.
Tamanha espera teve um motivo básico. "Sempre fui fiel ao conto. Era apaixonado demais por ele."
Após "Os Galos...", seguiriam mais 11 livros no gênero. Até que a paixão esfriou. "Percebi que tinha esgotado o território do conto. Tinha feito tudo o que queria."
Começou a ser tentado pelo gênero romance aos 70 anos. A sedução foi lenta, mas Pólvora não resistiu.
A primeira pulada de cerca literária, digamos assim, rendeu um rascunho de cem páginas que não agradou ao autor e acabou no lixo.
Nova tentativa viria em 2005, desta vez com bons resultados. O grosso do romance foi escrito em três meses, mas os retoques e polimentos consumiram cinco anos.
"Inúteis Luas Obscenas" narra a história de José da Costa Guimarães, conhecido como o Surdo, seus filhos, Regina e Jonas, e sua nora, Celina. Os personagens alternam-se na narração da trama rural marcada por desejos sexuais, culpa e violência.
"De repente, você parte para algo mais substancial", explica o autor. "A velhice tem suas vantagens também. Tenho tempo de sobra e ainda estou na Bahia, que é altamente contemplativa."
Pólvora experimenta uma repercussão inédita em sua carreira, mas se diz calejado demais para se deslumbrar.
Promete, porém, que, sendo vencedor do prêmio, não irá rasgar o cheque. "Poderia alugar uma cabana no interior de São Paulo e escrever outro romance."
Seria o terceiro, pois o segundo ele já entregou para o editor. Trata-se de "Don Solidon". "Tenho ainda muito gás. O corpo está mais ou menos, mas a cabeça ainda funciona bem."
A infidelidade literária, certamente, tem sido benéfica a Pólvora.


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