São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999 |
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Vamos nessa
LÚCIO RIBEIRO Editor-adjunto da Ilustrada Titio Tarantino deve estar orgulhoso. Desde abril, a garotada americana tem excelente motivo para deixar um pouco de lado a combinação MTV/seriados e gastar cem minutos no cinema, assistindo ao "Pulp Fiction" de sua geração, o movimentado e bacana filme "Vamos Nessa" ("Go"). E esse mais bem-acabado produto do levante teen que migra da TV para se alojar cada vez mais nas bilheterias dos EUA (tudo começou com a série "Pânico", em 96) chega hoje à meia-noite aos olhos paulistanos, quando o Espaço Unibanco de Cinema promove uma sessão do filme, como atração de seu festival de filmes independentes (veja programação do dia nesta página). "Vamos Nessa" tem ainda uma segunda exibição dentro da mostra, na próxima quinta-feira. O filme tem previsão de estréia em circuito nacional para o dia 30 deste mês. Mais uma travessura do estabelecido gênero "teen", já tratado sociologicamente na América como "teensploitation", "Vamos Nessa" entrou em cartaz nos EUA sem nenhum alarde e em apenas dois meses triplicou seu custo de produção, de cerca de US$ 6 milhões. Isso na mesma época em que a comédia adolescente "She's All That" teve seus gastos de US$ 8 milhões dissolvidos em um lucro de bilheteria de US$ 54 milhões em pouco mais de um mês. Além de ser a maior referência da década ao filme-referência de Quentin Tarantino, "Vamos Nessa" junta no mesmo balaio cinematográfico elementos da cultura clubber, música pop e eletrônica da boa, adolescentes sem rumo, drogas, ironia fina, comédia esperta e, claro, referência aos seriados de TV. Tudo misturado, o imbróglio sai em cores, som e movimento da câmera nervosa do diretor Doug Liman, em seu segundo longa depois da elogiada estréia com o ótimo "Swingers - Curtindo a Noite", de 96. "Vamos Nessa" é uma montanha-russa de acontecimentos que chacoalha por 24 horas a vida de um grupo de jovens de um bairro qualquer de Los Angeles na véspera do Natal. A bela Sarah Polley é Ronna, uma caixa de supermercado, cujo desespero faz dobrar o turno de trabalho, para levantar um dinheiro extra para pagar o aluguel. Quando vê a chance de resolver seus problemas vendendo pílulas da droga ecstasy para dois riquinhos, a odisséia de 24 horas de Ronna vai entrar num turbilhão à moda Tarantino em "Pulp Fiction" e mesmo "Jackie Brown", em referência à fragmentação de tempo e espaço, marcas registradas do diretor, na condução de sua narrativa. Será a mesma história de Ronna e seus amigos, contada de três modos diferentes e entrelaçados: na visão da própria garota; na de seu colega de supermercado que cede seu turno à Ronna para curtir sexo e jogo em Las Vegas com amigos doidões; a de dois atores de seriado de TV envolvidos até o pescoço com a polícia depois de serem pegos com drogas. Tarantino está presente ainda neste "Vamos Nessa" nas cenas que envolvem um lacônico traficante de drogas, a discussão singela de como obter orgasmos mais duradouros etc. Um filme que mistura estrelas de seriados bacanas, o diretor de "Swingers", Fatboy Slim na trilha sonora, a estrutura de "Pulp Fiction" e uma viagem bem louca a Las Vegas não pode ser barca furada. Vai nessa. Avaliação: Filme: Vamos Nessa Direção: Doug Liman Com: Sarah Polley, Katie Holmes, Scott Wolf, Jay Mohr Quando: hoje à meia-noite e quinta-feira, 15, no Espaço Unibanco; estréia em circuito prevista para o dia 30 deste mês Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Aos 18, coisas absurdas acontecem", diz Liman Índice |
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