|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA/LANÇAMENTOS
"PET SOUNDS LIVE"
Mentor dos Beach Boys tenta refazer o caminho do sucesso
Ao vivo, Brian Wilson se recusa a envelhecer e erra
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
Brian Wilson nunca escondeu: "Pet Sounds", lançado
em maio de 66, era a tentativa dos
Beach Boys de alcançar, pelo menos, o mesmo patamar de "Rubber Soul", gravado um ano antes
pelos Beatles. Paul McCartney,
por sua vez, retribui: "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band",
de 67, considerado por muitos o
melhor álbum de estúdio da música pop, foi concebido durante
uma overdose de "Pet Sounds".
Sem entrar no mérito de quem
nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, os Beatles ou os Beach Boys,
o fato é que as 13 faixas de "Pet
Sounds" continuam sendo reverenciadas por músicos e produtores do mundo todo como uma
obra-prima do pop. E, se alguém
tem de levar o crédito por isso, seu
nome é Brian Wilson.
Cansado de fazer turnês com a
banda -que tinha ainda seus irmãos Carl e Dennis, além de Al
Jardine e Mike Love-, resolveu
afastar-se dos palcos já em 64, para assumir o posto de produtor e
compositor, sabendo que estaria
escrevendo seu testamento.
Tornou-se um mestre nessa
área e, com raríssimas exceções,
jamais voltou a se apresentar no
conturbado período pós-"Pet
Sounds", que viu o grupo descer
da crista da onda, com singles e álbuns que não chegavam mais a
disputar as primeiras posições
nas paradas americanas, como
acontecera com as canções "Surfin" USA", "I Get Along" e outros
dos primeiros sucessos dos garotos da Califórnia.
Brigas internas com gravadoras,
com os próprios integrantes e
uma série de projetos frustrados
depois, Brian Wilson resolveria
voltar a fazer shows em 1999 e é
exatamente de um desses que
nasce o (no mínimo) histórico registro "Pet Sounds Live", gravado
numa série de apresentações realizadas por Wilson e sua nova
banda em janeiro de 2002, no Royal Festival Hall, em Londres, e
lançado agora no Brasil.
"Vamos tocar o "Pet Sounds" inteiro", anuncia ele nos primeiros
segundos do disco. "Vocês podem fechar os olhos agora."
Está nitidamente empolgado,
assim como as dezenas de fãs ilustres presentes na platéia, que incluía Richard Ashcroft (The Verve), Chemical Brothers, Elvis Costello, David Gilmour (Pink
Floyd), Kevin Shields (My Bloody
Valentine), Paul Weller (The
Jam), Eric Clapton e outros nomes de quilate semelhante.
"Wouldn't It Be Nice" abre o
show/disco, com os mesmos arranjos da versão original, as mesmas sobreposições vocais, a mesma inocência e o frescor dos anos
iniciais dos Beach Boys.
Seguem "You Still Believe in
Me" e "That's Not Me", com seus
emblemáticos versos "I have to
prove/ that I can make it alone
now/ but that's not me/ I have to
show/ how independent I've
grown/ but that's not me..." (Eu
tenho que provar/ que consigo fazer sozinho agora,/ mas isso não
sou eu/ Eu tenho que provar/ como me tornei independente,/ mas
isso não sou eu...).
Se, naquela época, a mensagem
parecia ser o conflito entre as vantagens de envelhecer e a necessidade de aproveitar ao máximo a
energia da juventude do "american way of life", cantados hoje, os
mesmos versos trazem a incômoda sensação de que Wilson continua tentando provar algo.
Ainda que "I'm Waiting for the
Day", "Sloop John B", "God Only
Knows" e a própria "Pet Sounds"
pareçam irretocáveis, algo soa
deslocado quando se tira a poeira
de um dos mais importantes e
coesos repertórios da história da
música pop. Seria o excesso de
metais, de orquestrações ou apenas o vocal aparentemente desgastado de Brian Wilson?
Some-se a isso algumas incômodas (para não dizer, no mínimo, embaraçosas) intervenções
de Wilson entre uma faixa e outra
do disco: "a música preferida do
meu amigo Paul McCartney",
"vamos fazer agora um instrumental, sem vozes", "eu disse que
eles [os seus novos músicos" eram
bons, não disse?" e por aí vai...
Sei que peco ao criticar a tão esperada volta aos palcos de Brian
Wilson, que, com seus 60 anos recém-completados, não cabia dentro de si nas sessões de "Pet
Sounds Live", mas, com o perdão
do clichê, a verdade é que um raio
(especialmente aquele que pegou
de surpresa o pop americano naquele fatídico 1966) nunca cai
duas vezes no mesmo lugar.
Pet Sounds Live
Artista: Brian Wilson
Lançamento: Globo/Jive
Preço: R$ 25, em média
Texto Anterior: Música: R. Kelly não se pronuncia em apresentação à Justiça Próximo Texto: Outros lançamentos Índice
|