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Grupo Corpo questiona a existência no espetáculo "Onqotô", que estréia amanhã no teatro Alfa, em SP
Mergulho interior
LUCIANA ARAUJO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Num vôo rumo ao chão, o homem busca a resposta à sua pergunta diante do mundo: "Onde
estou?". Questão que em "mineirês" se traduz no novo espetáculo
do Grupo Corpo, "Onqotô", em
cartaz a partir de amanhã, no teatro Alfa, em São Paulo, a primeira
das cinco capitais da turnê nacional, que traz ainda a reapresentação de "Lecuona" (2004).
O questionamento existencial
-"onqotô?", "para onde vou?"
("pronqovô?") e "quem eu sou?"
("qemqosô?")- marca a inquietação dos gestos de busca da coreografia que Rodrigo Pederneiras desenvolveu a partir da trilha
sonora de Caetano Veloso e José
Miguel Wisnik, criada, entre outras reflexões, a partir da idéia
contida na frase de Nelson Rodrigues sobre a clássica rivalidade do
futebol carioca, "O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada".
Wisnik ressalta que
""onqotô" tanto parece
uma palavra africana
quanto oriental e indígena, como se rodasse por toda parte",
assim como a companhia de dança, que
rodou o mundo em 30
anos de existência.
Para abrigar essa busca
pela origem em música e dança,
Paulo Pederneiras idealizou um
"não-cenário", que expressa o começo e o vazio, o princípio do
universo. "Livrei-me de todas as
referências do palco, apelando
para a forma redonda", conta ele,
que também é o diretor artístico e
o responsável pela iluminação do
espetáculo.
Dispostas num semicírculo e esticadas do chão até uma altura de
nove metros, tiras de borracha remetem ao mesmo tempo às formas de uma aldeia, de um planeta
e de um estádio de futebol.
A presença do futebol, no entanto, é apenas pressentida: os
dribles incorporados à coreografia, a iluminação vinda de cima, os
tênis e as joelheiras do figurino
idealizado por Freusa Zechmeister funcionam como proteção para os bailarinos, pois o impacto
dos corpos contra o chão é primordial em "Onqotô".
Antes era o nada
Como um sopro criador, a música "Fla-Flu" embala os movimentos iniciais ao som de flautas.
Na seqüência, os bailarinos dançam em bloco, com movimentos
que percutem no chão. "A busca
da identidade se dá na terra, e o
corpo é este veículo que viaja sobre ela", diz Rodrigo Pederneiras.
A procura por respostas é de todos e de cada um. Corpos dançam
juntos e, vez ou outra, um bailarino se desprende para encenar um
solo. "São reflexões sobre grupos
e indivíduos; uniões e separações", explica o coreógrafo.
Dois homens rastejam "entre o
chão e o não", sob a canção "Madre Deus": "Frente ao infinito/
costas contra o planeta". Noutro
momento, a canção tribal "Cobra
do Caos" conduz os passos de
mulheres, expressando a feminilidade da terra fértil.
A busca também se faz no corpo
do outro e em confrontações. Um
homem e uma mulher movem-se
com violência; duas mulheres tocam-se com languidez. Ambas as
duplas em sintonia com os versos
musicados do poema "Mortal
Loucura", de Gregório de Matos
(1636-1695). O Fla-Flu, no início
sugerido instrumentalmente, escancara-se em passos de hip hop
no ritmo de "Big Bang", em que
Caetano e Wisnik contestam a
aceitação da expressão inglesa.
Coreografia de músculos
Solidão e opressão marcam o
caminho do homem sobre a Terra. Diante dela, ele se sente um nada. Neste ponto, um dos momentos mais intensos, versos de "Os
Lusíadas", de Camões, são cantados pela não-cantora Gracie.
Encolhido, "um bicho da terra
tão pequeno", o bailarino Helbert
Pimenta movimenta-se sob uma
luz que simula as dos carros de
polícia. A platéia só vê as costas e
braços do homem/coisa em sua
coreografia de músculos.
Por fim, quando a voz de "Onqotô" se transforma em música,
um homem despenca sobre o palco. E permanece ali, imóvel, um
corpo estendido no chão.
A jornalista Luciana Araujo viajou a
convite do Grupo Corpo
Onqotô - Grupo Corpo
Quando: qua. a sáb., às 21h; dom., às
18h; até 21 de agosto
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, SP, tel. 0/xx/11/
5693-4000)
Quanto: R$ 30 a R$ 70
Quando: 31/8 a 5/9, às 20h; 4/ 9, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano, s/
nš, RJ, tel. 0/xx/21/ 2262-3935)
Quanto: R$ 30 a R$ 70
Quando: 8/9 a 13/9, às 21h; 11/ 9, às 19h
Onde: Palácio das Artes (av. Afonso
Pena, 1.537, BH, tel. 0/ xx/31/3237-7399)
Quanto: R$ 50
Quando: 29 a 3/10, às 21h; dia 2, às 20h
Onde: teatro Nacional (Setor Cultural
Norte, via n2 , s/nš, Brasília, tel. 0/xx/61/
3325-6256)
Quanto: R$ 50
Quando: 8/10, às 21h; 9/10, às 19h
Onde: Teatro do Sesi (av. Assis Brasil,
8.787, Porto Alegre, tel. 0/xx/51/3347-8706)
Quanto: R$ 30 a R$ 60
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