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Stone filma os heróis do 11/9
"As Torres Gêmeas", sobre policiais que sobreviveram ao atentado terrorista, entra em cartaz nos EUA
Em pré-estréia em NY para familiares das vítimas e sobreviventes, parte da platéia se emociona e deixa o cinema antes do fim
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Poucos dias depois do 11 de
Setembro, o diretor Oliver Stone disse como faria um filme
em resposta aos ataques terroristas. A obra buscaria referências em "A Batalha de Argel"
(1965), do italiano Gillo Pontecorvo, obra capital do cinema
político que retrata com crueza
e brutalidade inéditas a guerra
urbana dos argelinos contra a
ocupação francesa. Não o fez.
Em "As Torres Gêmeas"
("World Trade Center"), que
estréia hoje nos EUA, ele abandona as habituais teorias da
conspiração (como fizera em
"JFK") e explora a construção
do herói americano. A palavra
"terrorismo" não é mencionada nenhuma vez pelo elenco, à
exceção de Nicolas Cage.
A Folha assistiu à première
exclusiva para bombeiros e policiais sobreviventes, anteontem, na Broadway, em que estavam Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York à época, e o
governador George Pataki.
A versão de Stone para os
atentados é baseada nas histórias de Will Jimeno (vivido por
Michael Peña) e John McLoughlin (Nicolas Cage), policiais
comuns, últimos a serem resgatados com vida dos escombros. O foco é o heroísmo.
O filme é um vaivém entre
cenas de ruína e familiares à espera de (boas) notícias. E fica
nisso o tempo inteiro.
Não precisava ser o World
Trade Center. Podia ser sobre
qualquer prédio desabado ou
pessoas soterradas em terremoto. Mas Stone, ele próprio
um nova-iorquino, deu o primeiro passo na seqüência de
filmes sobre o 11 de Setembro.
A primeira terça parte é a
mais intensa: os personagens e
Nova York são apresentados,
as torres são atingidas, os prédios caem. E é aí que Stone deixa claras suas intenções.
Não há imagens aéreas. Toda
a história é narrada da perspectiva terrestre, de quem está no
chão e olha ao redor. As câmeras não apontam para o alto. O
choque do primeiro avião é discretamente substituído pela
sombra de um Boeing-737 e
imagens do WTC intacto.
O desmoronamento do complexo é visto em cenas internas
de soterração, curtíssimas, seguidas de um corte.
Antes do impacto, Stone faz
uma ode a Nova York, com um
clipe de pontos turísticos (ou
possíveis alvos de novos ataques), como Empire State, Times Square, a Estátua da Liberdade, o touro de Wall Street
e a ponte do Brooklyn.
A prefeitura não deixou Stone fechar o Financial District
para gravar a devastação. Manhattan não se recuperou do
trauma dos atentados e não
quis (re)ver cenas de escombros nem ouvir sirenes e gritos.
As poucas tomadas foram feitas em Canal Street, sem destruição. O resto foi gravado em
estúdios de Los Angeles e feito
em computação gráfica.
Para aumentar a verossimilhança, ele usou voluntários
reais como figurantes e seguiu
à risca os pormenores descritos
por Jimeno e McLoughlin.
O filme tem dividido a crítica
americana, que diverge sobre a
abordagem dada por Stone. As
análises vão de "inesperado" e
"inesquecível" a "cedo demais".
Na sessão da última segunda,
algumas pessoas se retiraram
do cinema. "É pisar em solo sagrado. Não quero ver o que já
sei de cor", justifica Leonard
Crisci, 58, que perdeu o irmão,
John, bombeiro que tentava
evacuar a torre sul.
"Cada um deve decidir se assiste ou não. Mas acredito que
seja apropriado lembrar a coragem com que bombeiros, policiais e nova-iorquinos reagiram ao ataque", disse o governador George Pataki.
"É um filme muito forte. Essa história precisa ser contada.
Foi ao mesmo tempo o pior e o
melhor dia que Nova York já viveu", completou Giuliani.
"As Torres Gêmeas" estréia
no Brasil em 29 de setembro.
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