São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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O vampiro das saladas

Aos 83 anos, Dalton Trevisan é adepto da internet e faz caminhadas diárias; entre os hábitos alimentares, o "vampiro de Curitiba", quem diria, dispensa a carne vermelha

DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Se Dalton Trevisan é um artista metódico, sempre em busca da concisão em seus contos, no dia-a-dia o escritor faz questão de manter esse espírito de frugalidade. Tudo em nome do anonimato.
O "vampiro de Curitiba" não concede entrevistas há quase 30 anos. Reforçado pelo mistério da reclusão, o codinome vem desde 1965, data da publicação do livro homônimo.
Por ocasião do lançamento de seu novo trabalho, "O Maníaco do Olho Verde" (leia crítica ao lado), o escritor não respondeu a pedidos para conversar com a reportagem.
"Ele não faz isso por mal. O Dalton gosta de ficar na dele pois é contra a autopromoção", diz o diretor teatral João Luiz Fiani, responsável por cinco montagens teatrais de contos de Trevisan. Além da aversão à imprensa, Trevisan também costuma mudar seu itinerário pelas ruas de Curitiba para não ser reconhecido durante caminhadas, compras e visitas a cafés e livrarias.
Para evitar curiosos, conta o editor, escritor e jornalista Fábio Campana, Trevisan altera com freqüência a direção de suas caminhadas ao sair de casa, no bairro Alto da XV, próximo ao estádio Couto Pereira.
"Ele é bastante preocupado com essas coisas de não ter contato com ninguém e faz questão de mudar muito de rua quando sai para seus exercícios diários", afirma Campana.

Adepto da internet
A rotina de trabalho de Trevisan começa em casa, por volta das 8h, quando vai para o "puxadinho" nos fundos da casa, onde funciona seu escritório. E, diferentemente do que a reputação de enclausurado possa sugerir, ele é adepto do computador e da internet banda larga sobre a escrivaninha.
O trabalho diário costuma se resumir a 90 minutos de escrita. Em seguida, o "vampiro" sai para caminhar pela região central de Curitiba.
No caminho, bate ponto na livraria do Chain, do comerciante Aramis Chain, amigo há mais de 30 anos. É lá que Trevisan busca encomendas de sua editora, recebe recados de amigos e os pedidos de autógrafo deixados pelos fãs.
Chain é um entusiasta de conversas sobre a política e a economia brasileiras. Faz avaliações críticas e detalhadas quando se tocam nesses temas. O tom muda quando a conversa deriva para Trevisan.
"Não procuro falar muito com ele. Deixo que fique à vontade aqui. Gosto da presença dele e não quero incomodar fazendo muita abordagem", diz.

Teatralidade forte
"Quem conta as coisas que o Dalton faz não é amigo dele", afirma o cineasta Estevan Silvera, que dirigiu o curta-metragem "A Balada do Vampiro", baseado em conto de Trevisan. "O Dalton tem personagens muito intensos em suas obras, de teatralidade muito forte. Quando faço teatro com os contos dele, o texto vai na íntegra", diz o diretor teatral Fiani, que mantém parceria com Trevisan desde 1989, quando atuou na peça "Mistérios de Curitiba", dirigida por Ademar Guerra.
Aos 83 anos, Trevisan ostenta boa saúde, o que o motiva a sempre produzir. A disposição também é resultado de caminhadas diárias e alimentação disciplinada, dizem amigos.
O escritor dispensa carne vermelha, ironia no caso de um autor tratado como "vampiro". Prefere saladas, frutas, grãos e alguma carne branca. Cardápio conciso para ajudar a alimentar seus contos.


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