São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Lynch sugere meditação para entender seus filmes

Diretor diz a fãs que, meditando, chega-se à "compreensão infinita" de seus longas

Tratado como um astro pop, cineasta foi aplaudido a cada frase em encontro em São Paulo, onde lançou seu livro sobre meditação


SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

"Você acredita que as pessoas entenderiam melhor seus filmes se fizessem mais meditação transcendental?", provoca alguém da platéia por meio da tradutora, que administra os papéis com as perguntas e as lê em português e inglês. Antes de responder, David Lynch amplia o sorriso para demonstrar que terá prazer em morder a isca. "Sem dúvida", diz ele. Aplausos e apupos. "Compreensão infinita." Mais aplausos.
A cena resume o tom de um dos encontros do cineasta norte-americano com o público brasileiro, na tarde de quinta, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional: cinema disputando espaço na pauta com meditação transcendental, um público formado por tietes de ambos os campos de interesse, disposto a aplaudir a cada resposta espirituosa, e um cineasta de enorme simpatia, bem à vontade em momento de astro pop.
Lynch veio ao Brasil para lançar "Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação" (Ed. Gryphus, 204 págs., R$ 29,90), dedicado a "Sua Santidade Maharishi Mahesh Yogi" e que saiu nos EUA no final de 2006 com o título "Catching the Big Fish: Meditation, Consciousness e Creativity" (Pegando o peixe grande: meditação, consciência e criatividade).
Muito do que falou às cerca de 200 pessoas que lotaram o teatro da livraria, de forma pausada para facilitar a tradução, saiu quase literalmente do livro, incluindo a metáfora do título. "A meditação transcendental permite se livrar da negatividade e abrir o duto da criatividade para que você trabalhe com mais energia", disse. Dessa forma, seria possível alcançar a "paz absoluta" e "ir mais fundo", até onde ficam os "peixes grandes", as idéias mais originais e estimulantes.
"No Brasil, onde há muito estresse, como em outras partes do mundo, a meditação vai ajudar as pessoas", sugeriu. Com o escritor Robert ("Bobby") Roth e do cantor Donovan, parceiros na divulgação das idéias de Maharishi por meio da Fundação David Lynch, o cineasta não veio ao Brasil para falar de cinema, mas o interesse da platéia o obrigou a conectar um assunto com o outro, ao falar do impacto da meditação transcendental, que conheceu em 1973, em seu processo criativo.
Seu filme favorito, entre os que dirigiu? "Recuso-me a dizer. São todos como pequenas crianças, e não posso falar de qual gosto mais." Em seguida, quando o autor da pergunta esclareceu que se referia a filmes de outros cineastas, o diretor homenageou Kubrick, citado antes por ter dito que "Eraserhead" (1977), de Lynch, era seu favorito. "Gosto de muitos, mas o que vou mencionar hoje é "Lolita" (1962)." Aplausos.
Mudou de idéia em relação ao merchandising no cinema, que já condenou, por ter dirigido comerciais? "Faço comerciais de vez em quando por um único motivo: ganhar dinheiro." Aplausos entusiasmados. "Mas sempre digo que, quando faço, aprendo algo: a eficiência no modo de dizer alguma coisa e tecnologia. Já o merchandising em um filme putrifica o ambiente, e está ocorrendo cada vez mais. Que mundo é esse?" Mais aplausos.
O que David Lynch sabe de David Lynch? "Nada." Aplausos. No final, o inevitável "obrigado" em português (já coloquial, sem o primeiro "o") e, com horário cravado, outros compromissos da agenda de astro pop: autógrafos para uma fila imensa que serpenteava por todos os andares da livraria e, à noite, outro encontro sobre meditação na FAAP.


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