São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Cantar só para público cabeça cansa, diz Fagner

Músico afirma que baixa "um pouquinho" a qualidade para atrair grandes plateias

No novo CD "Uma Canção no Rádio", Fagner assina só 2 das 10 faixas; prefere se dedicar a "cantar bonito", em fórmula popular-romântica


MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Está faltando homem que cante bonito." Grave, quase soturna, a frase veio do Ceará, por telefone. Do outro lado da linha estava Raimundo Fagner, 59, e seu vozeirão, que pareciam ter acabado de sair da cama.
Autor de clássicos incontestáveis como "Mucuripe" e "Canteiros", ele tem composto pouco. Prefere cantar -bonito- as músicas dos outros. É basicamente o que faz em "Uma Canção no Rádio", que acaba de lançar. Das dez faixas do álbum, apenas duas -parcerias com Chico César e Fausto Nilo- levam sua assinatura.
"Ninguém recusa uma voz que venha com beleza. Está aí esse horror de mulher cantando porque, apesar de tudo, elas têm certa doçura na voz", diz. "Tem artista famoso que se sustenta há anos na parada de sucesso por causa de produção, tecnologia, modernidade, uma série de outras coisas. Mas voz que é bom você não identifica."

"Povão"
O título do álbum novo não tenta esconder: Fagner se orgulha de ser popular. Se isso nem sempre foi assim (quem duvida que trate de ouvir o experimental -e arrebatador- "Orós", gravado por ele em 1977), assim ficou desde que Roberto Carlos lhe deu a dica.
Fagner conta que, na virada para os anos 80, encontrou Roberto em Miami e foi puxado para um canto: "Bicho, suas músicas são boas, mas quando é que você vai cantar para o povão?". A pergunta ecoou em sua cabeça como um sino de igreja. "O que fiz [a partir de então] foi baixar um pouquinho a qualidade. Diminuir um pouquinho a intensidade da inteligência", diz. "Para o grande público não precisa inteligência demais. E ficar todo o tempo cantando só para público cabeça cansa, cai o cabelo.
Se você tem capacidade, consegue fazer para os dois [tipos de público]." Graças a essa ideologia, tem lotado todos os seus shows desde então, onde quer que os faça. E enche a boca para dizer que nunca precisou usar leis de incentivo para mantê-los assim.
Defende que artistas consagrados como ele não deveriam usar esse tipo de recurso, pois estariam tirando o benefício dos novatos, que poderiam precisar mais. Usa Caetano Veloso, seu eterno desafeto predileto, como exemplo. "Caetano está fazendo um show experimental, do disco novo. Fazer show experimental usando lei é uma mamata", ataca. "Mas esse pessoal aí só vive de lei. Desde que botaram o ministro lá, usam lei adoidado. É o que eu chamo de "uma mão suja a outra"."
Ainda que traga lampejos políticos -como a faixa "Martelo", que conta com a participação de Gabriel, o Pensador-, "Uma Canção no Rádio" é um disco de amor. O conceito "música de protesto" saiu de moda? Fagner afirma que sim. "Esse discurso ficou datado. Poucas vezes eu fui censurado nem por isso sou um alienado. Por formação, uso a arte na forma de música romântica."


UMA CANÇÃO NO RÁDIO

Artista: Fagner
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 26, em média




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