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Crítica/DVD
Pialat evita melodrama e cria elos entre pintura e cinema em "Van Gogh"
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A eterna relação de fascínio entre o cinema e a
pintura flutua desde a
inspiração até o vampirismo
daquele frente a esta. Quando
se trata de biografar artistas então, os filmes parecem antes de
tudo querer projetar ideais raros, quando não inexistentes.
Dos "heróis irresistíveis" da
arte, o nome de Vincent van
Gogh tornou-se um lugar-comum, com sua mistura de ícone romântico, reconhecimento
tardio e mito rebelde.
O suicídio que encerrou sua
trajetória curta e fulgurante
pôs fim com chave de ouro a
uma história feita sob medida
para o cinema e sua queda pelo
melodrama.
Quando chegou às mãos do
diretor francês Maurice Pialat
em 1991, o mito já havia recebido revisões assinadas por grandes como Resnais, Minnelli e
Altman, além de um curta feito
pelo próprio Pialat nos anos 60.
Conhecido mais por seu temperamento irascível do que pelo rigor e pela forma antiespetacular de seu trabalho, Pialat
aborda o artista enquanto mito
pela contramão. Inadequação,
incompreensão e insubordinação às regras não constituem
valores em si, demonstra o diretor a partir de seu modelo,
dando a entender que o raciocínio aplica-se sem mudanças a
seu trajeto de autor.
Logo, o "Van Gogh" de Pialat
será tão idiossincrático quanto
o ultraromântico de Minnelli e
o despojado de Altman. No entanto, em vez de se perder em
confissões, Pialat recupera explicitamente em "Van Gogh"
sua própria experiência como
pintor, prática que exerceu antes de se converter em cineasta.
Sem ilusionismos
Com o álibi de filme sobre artista, Pialat executa um dos
mais profundos trabalhos pictóricos já feitos no cinema, sem
permitir confundir pintura
com empetecamento da imagem ou com a reprodução impressionante, mas sem sentido,
da obra de Van Gogh realizada
por Kurosawa em "Sonhos".
O diretor francês nos faz ver
que entre cinema e pintura a similitude não se esgota na superfície da tela, nos acordos de
luz e cor que muitas vezes nos
levam a perder nosso olhar no
ilusionismo da beleza.
É na concepção de quadro,
espaço delimitado por quatro
linhas que se abrem ou se fecham que tanto pintor como cineasta impõem uma visão (no
sentido de ponto de vista) ao
espectador.
O artista, então, passa a ser
aquele que oferece uma experiência sublime, que nos arranca do torpor, mesmo quando
retrata um tema ou uma vivência identificada como banal
(exemplar, aqui, no modo como
Van Gogh é um homem sem
qualidades). Os outros não passam de captadores de imagens.
VAN GOGH
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 44,90
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo
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