São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997.



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POLÊMICA
Cantor revela em "Tambores de Minas" que foi obrigado a se afastar de Pablo durante o período militar
Milton fala de seu filho 'oculto' em show

da Reportagem Local

No show "Tambores de Minas", em cartaz no Tom Brasil, o cantor Milton Nascimento revela, durante um discurso, que se afastou de seu filho Pablo porque ele poderia ser sequestrado durante o regime militar.
Milton Nascimento tem um filho adotivo chamado Pablo Ferreira, filho da comerciante de jóias e objetos de arte Cáritas, 64, com quem o cantor manteve um romance nos anos 60 e 70. "Milton é pai simbólico de Pablo, não é o pai legítimo, mas ele faz questão que se diga que Pablo é seu filho", afirmou Cáritas à Folha.
No discurso, em terceira pessoa (o cantor narra como se o afastamento tivesse acontecido com um amigo), afirma que recebeu telefonemas de alguém que ameaçou sequestrar Pablo caso Milton continuasse a vê-lo.
Apesar de, no discurso, afirmar que "não quer e não pode mais sofrer calado", o cantor, procurado pela Folha, negou-se a comentar o fato e revelar quem o ameaçava.
Para Cáritas, que assistiu o show ao lado de Pablo, no dia 18 de julho (um dia depois da estréia), o discurso foi uma surpresa.
"Fiquei assustada com o que ele (Nascimento) disse. Era um segredo que ele manteve durante todo esse tempo. Eu não sabia", afirmou, sem comentar quem seria o provável autor dos telefonemas. "Não quero dizer porque há conotações políticas e a violência continua igual."
Depois do show, ela e Pablo jantaram com o cantor, mas não comentaram o discurso. "Ele é um homem de 50 anos, faz o que quer."
Pablo fez 24 anos em fevereiro passado, segundo Cáritas. É um advogado que mora em um condomínio fechado no bairro do Itaim e que não atendeu aos telefonemas da Folha. "Ele não gosta de se expor e não comenta que Milton o considera seu filho. É muito independente e desde menino mora sozinho", afirmou sua mãe.
Romance
Cáritas não revela o período exato que viveu com Milton Nascimento. "Ele era um jovem solitário, perdido e triste, e vivemos juntos em São Paulo durante muitos anos, até ele perseguir seus interesses e viajar ao exterior. Mas comecei do zero com Milton", afirmou ela.
Segundo Cáritas, a aproximação dos dois aconteceu no auge do movimento conhecido por "Black is Beautiful".
O cenário era o seguinte: Cáritas já era uma comerciante estabelecida nos 60. Ela organizava festas e recebia artistas. Cáritas costumava viajar para Nova York para assistir shows e fazer compras, acompanhando o estilo de vida dos abastados da época.
"Nos anos 60 era uma dádiva. Dormíamos com quem queríamos sem sentimento de culpa. Depois veio o "Black is Beautiful" e branco e preto transavam sem racismo. Talvez por ser paulista e loira que tivemos um caso de amor", disse.
Apesar de aparentar ressentimento -"amava e amo o Milton, mas é coisa do passado"-, Cáritas afirma que hoje em dia eles são muito amigos. "Sempre conversamos, mas há distância. Somos prisioneiros de um encantamento, como em uma lenda escandinava. Se falar muito disso, o encantamento quebra."
Cáritas afirma que o contato entre Pablo e Nascimento foi restrito. "Nunca dependi dele e criei Pablo sozinha. Tenho orgulho disso. Foi uma dificuldade feita com muito prazer."
A comerciante frequentemente vai aos shows de Nascimento, mas esclarece: "Não sou tiete dele. Não tenho todos os seus discos. Minha relação com ele é de homem e mulher, não de astro e fã."
(DANIELA ROCHA)



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