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POLÊMICA
Cantor revela em "Tambores de Minas" que foi obrigado a se afastar de Pablo durante o período militar
Milton fala de seu filho 'oculto' em show
da Reportagem Local
No show "Tambores de Minas", em cartaz no Tom Brasil, o
cantor Milton Nascimento revela,
durante um discurso, que se afastou de seu filho Pablo porque ele
poderia ser sequestrado durante o
regime militar.
Milton Nascimento tem um filho
adotivo chamado Pablo Ferreira,
filho da comerciante de jóias e objetos de arte Cáritas, 64, com quem
o cantor manteve um romance nos
anos 60 e 70. "Milton é pai simbólico de Pablo, não é o pai legítimo,
mas ele faz questão que se diga que
Pablo é seu filho", afirmou Cáritas
à Folha.
No discurso, em terceira pessoa
(o cantor narra como se o afastamento tivesse acontecido com um
amigo), afirma que recebeu telefonemas de alguém que ameaçou sequestrar Pablo caso Milton continuasse a vê-lo.
Apesar de, no discurso, afirmar
que "não quer e não pode mais sofrer calado", o cantor, procurado
pela Folha, negou-se a comentar o
fato e revelar quem o ameaçava.
Para Cáritas, que assistiu o show
ao lado de Pablo, no dia 18 de julho
(um dia depois da estréia), o discurso foi uma surpresa.
"Fiquei assustada com o que ele
(Nascimento) disse. Era um segredo que ele manteve durante todo
esse tempo. Eu não sabia", afirmou, sem comentar quem seria o
provável autor dos telefonemas.
"Não quero dizer porque há conotações políticas e a violência
continua igual."
Depois do show, ela e Pablo jantaram com o cantor, mas não comentaram o discurso. "Ele é um
homem de 50 anos, faz o que
quer."
Pablo fez 24 anos em fevereiro
passado, segundo Cáritas. É um
advogado que mora em um condomínio fechado no bairro do
Itaim e que não atendeu aos telefonemas da Folha. "Ele não gosta de
se expor e não comenta que Milton
o considera seu filho. É muito independente e desde menino mora
sozinho", afirmou sua mãe.
Romance
Cáritas não revela o período exato que viveu com Milton Nascimento. "Ele era um jovem solitário, perdido e triste, e vivemos juntos em São Paulo durante muitos
anos, até ele perseguir seus interesses e viajar ao exterior. Mas comecei do zero com Milton", afirmou ela.
Segundo Cáritas, a aproximação
dos dois aconteceu no auge do
movimento conhecido por "Black
is Beautiful".
O cenário era o seguinte: Cáritas
já era uma comerciante estabelecida nos 60. Ela organizava festas e
recebia artistas. Cáritas costumava
viajar para Nova York para assistir
shows e fazer compras, acompanhando o estilo de vida dos abastados da época.
"Nos anos 60 era uma dádiva.
Dormíamos com quem queríamos
sem sentimento de culpa. Depois
veio o "Black is Beautiful" e branco e preto transavam sem racismo.
Talvez por ser paulista e loira que
tivemos um caso de amor", disse.
Apesar de aparentar ressentimento -"amava e amo o Milton,
mas é coisa do passado"-, Cáritas afirma que hoje em dia eles são
muito amigos. "Sempre conversamos, mas há distância. Somos
prisioneiros de um encantamento,
como em uma lenda escandinava.
Se falar muito disso, o encantamento quebra."
Cáritas afirma que o contato entre Pablo e Nascimento foi restrito.
"Nunca dependi dele e criei Pablo
sozinha. Tenho orgulho disso. Foi
uma dificuldade feita com muito
prazer."
A comerciante frequentemente
vai aos shows de Nascimento, mas
esclarece: "Não sou tiete dele. Não
tenho todos os seus discos. Minha
relação com ele é de homem e mulher, não de astro e fã."
(DANIELA ROCHA)
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