São Paulo, Segunda-feira, 09 de Agosto de 1999
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CRÍTICA
Filme foge do ridículo ao usar o caminho da auto-ironia

JOÃO LEIVA FILHO
Diretor-adjunto

da Revista da Folha
Astronautas viajam no tempo e encontram um mundo quase primitivo, onde macacos evoluídos dominam homens mudos e bestializados. Daí para o ridículo bastava um pequeno deslize, o que o diretor Franklin Schaffner conseguiu evitar devido, principalmente, a uma boa dose de auto-ironia.
A estratégia já aparece no início de "O Planeta dos Macacos". Um astronauta canastrão (Charlton Heston) traga um inusitado charuto e se pergunta se em algum lugar do universo não existiria uma raça melhor do que a humana.
Schaffner limita as perseguições que costumam abundar nesse tipo de produção e aposta nos diálogos. A opção, aparentemente trivial, foi decisiva, pois abriu espaço para a "atuação dos macacos", as estrelas do filme.
A trama mostra o dilema dos símios diante da chegada de um homem que pode abalar os dogmas de sua existência, pois fala e pensa. Os orangotangos, legisladores retrógrados, querem eliminar a ameaça usando a força dos gorilas. O "fato" só é encarado de frente pelos chimpanzés, cientistas em busca da "verdade". Acusados de heresia, eles vão a julgamento. De novo à beira do ridículo, o filme é salvo por diálogos leves, que evitam a discurseira.
Fugindo do que poderia ser uma patética crítica à arrogância humana, o diretor criou uma boa "ficção ligeira", estrelada por simpáticos chimpanzés (Zira e Cornelius) e um inquieto orangotango (Zaius). O sucesso da fórmula resultou em um Oscar especial de maquiagem, em mais quatro episódios (bem piores) e na criação de uma série de TV, transformando o filme numa espécie de clássico trash da ficção científica.


Avaliação:    


Título original: Planet of the Apes
Diretor: Franklin Schaffner
Produção: EUA, 1968
Com: Charlton Heston, Roddy McDowall e Kim Hunter


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