São Paulo, terça, 9 de setembro de 1997.



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Atriz mexicana reclama da discriminação em Hollywood e quer mudar imagem de 'caliente'
Salma Hayek quer sepultar "latina sexy"

ELAINE GUERINI
da Reportagem Local

Passada a fase do deslumbramento, Salma Hayek, 28, começa a sentir as limitações de uma estrela latina em Hollywood. Apontada como a mexicana mais famosa da indústria depois de Dolores del Rio, a atriz não quer ficar restrita aos papéis "calientes".
"Fiquei com essa imagem porque só me chamam para interpretar mulher sexy", disse a atriz em entrevista à Folha, por telefone, de Los Angeles. Sua mais recente personagem, em "E Agora, Meu Amor?", que estréia no Brasil em novembro, é uma fotógrafa mexicana que seduz um executivo nova-iorquino em Las Vegas.
"A vantagem é que nessa história a garota mexicana é a protagonista, o que raramente acontece. Os latinos ainda são discriminados", afirma a atriz, que filma atualmente "The Velocity of Gary", uma produção independente dirigida por Dan Ireland.
Em dezembro, Salma inicia as filmagens da biografia da pintora Frida Kahlo (1907-1954). O trabalho também marca a sua estréia como produtora. "Mais uma mexicana para a minha galeria. Mas essa merece." Leia a seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Qual a principal desvantagem da estrela latina?
Salma Hayek -
Hollywood te encaixa no grupo dos latinos. Mesmo assim, eu e outras atrizes, como Sônia Braga, não temos a mesma oportunidade. Se você tem sangue latino, mas nasce em Miami ou Nova York, eles te consideram americana. Do contrário, você fica para segundo plano.
Infelizmente Hollywood não vê a alma das pessoas. Eles só se importam com a aparência e com o sotaque. Eu tenho a atitude certa, mas o sotaque errado.
Folha - Acha que, no seu caso, o preconceito se agrava por você ter sido estrela de novela mexicana?
Salma -
Acho que não. A maneira de trabalhar no México é bem diferente da dos EUA. Mas foi uma experiência extraordinária. Meu sucesso aconteceu de uma hora para outra e eu tive de carregar algumas novelas nas costas ("Teresa" e "Nuevo Amanecer"). Eu atuava usando ponto eletrônico e conseguia fazer tudo muito rápido e bem feito.
Folha - É verdade que você não passou no primeiro teste para "E Agora, Meu Amor?"?
Salma -
É. Quando o projeto surgiu, há uns quatro anos, eu ainda não havia feito quase nada nos EUA e ninguém me considerou para o papel. Mas tive sorte, o filme acabou demorando para sair.
Quando o projeto foi retomado no ano passado, fui aprovada. Fiquei feliz porque achava que seria uma boa oportunidade para mostrar meu lado cômico e, quem sabe, amenizar a imagem sexy, já que a minha personagem passa boa parte da história grávida. Mas não deu certo. Logo nas primeiras críticas, disseram que eu continuava sexy. Será que ninguém reparou na minha barriga?
Folha - Como você lida com os estereótipos na hora de interpretar uma mexicana?
Salma -
Em "E Agora, Meu Amor?" não dá para evitá-los, porque é uma comédia. Mas faço questão de evitar a caricatura, minha personagem é bem real.
Desse universo dos estereótipos mexicanos, o filme usa apenas os positivos. Mostra a forte relação entre os membros da mesma família. Seria pior se os mexicanos da história fossem pobres e se os maridos batessem nas mulheres.
Folha - Por que você recusou o papel-título em "Selena" (que ficou com Jennifer Lopez)?
Salma -
Ela tinha acabado de morrer (a cantora foi assassinada pelo fundador de seu fã-clube). Não concordo com essa postura. Alguém morre, vai para o noticiário e já pensam em fazer dinheiro em cima. Prefiro o papel de Frida Kahlo. Acho importante retratar o período em que ela viveu, sua visão do mundo e seu trabalho. Nesse caso, não há nada de mórbido.



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