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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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ANÁLISE

Influência foi vista nas telas

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nenhuma revista teve, na história do cinema, tanta influência quanto a "Cahiers du Cinéma". Da primeira geração de críticos dessa publicação criada no início dos anos 50 saiu nada menos do que a nouvelle vague.
Antes de se tornarem cineastas, os integrantes desse grupo -François Truffaut, Jacques Rivette, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Eric Rohmer- promoveram a mais radical revisão dos valores cinematográficos.
O próprio entendimento dessa arte saiu de cabeça para baixo da empreitada. Não se suspeitava, até então, que Howard Hawks ou Alfred Hitchcock estivessem entre os maiores diretores de todos os tempos. Para todos os efeitos, eram apenas bons realizadores de filmes comerciais.
Até André Bazin -fundador da revista- às vezes ficava de cabelo em pé com as audácias dos discípulos. Ao mesmo tempo, defendiam cineastas desprezados (Jean Renoir, Max Ophuls), propagandeavam alguns novos (Nicholas Ray, Anthony Mann, Ingmar Bergman), atacavam nomes inatacáveis (John Ford), polemizavam com o acadêmico realismo psicológico, conhecido como cinema da "qualidade francesa".
Nos anos 50, os "Cahiers" eram uma revista tida como de direita. A herança surrealista e a esquerda eram representados por "Positif".
Os "Cahiers" mantiveram o vigor e a influência ao longo dos anos 60, embora a equipe mudasse à medida que os antigos redatores passavam para trás da câmera. Sua primeira grande crise começou no fim dos 60, com a violenta guinada à esquerda que se seguiu a maio de 68.
Essa crise só terminaria no fim dos 70, com a chegada de outra equipe, liderada por Serge Daney. Na década de 80, Daney deixou a direção e foi para o jornal "Libération", com Louis Skorecki.
Serge Toubiana, outro amigo de Daney, segurou as pontas até a última reformulação, quando a revista foi comprada pelo "Le Monde", que optou por uma linha mais popular. Os "Cahiers" sofreram com a mudança: adotaram um meio-termo esquizofrênico entre a extrema intelectualização que a havia caracterizado nas últimas décadas e as revistas de divulgação tipo "Première".
Ao que parece, essa última forma não agradou aos velhos leitores, nem seduziu os fãs de "Première". A idéia das Editions de l'Etoile, de elevar o crítico Jean-Michel Frodon, do "Le Monde", a redator-chefe dos "Cahiers", parece jogar uma pá de cal no elo já tênue entre a tradição da revista e sua orientação atual.


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