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ANÁLISE
Influência foi vista nas telas
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nenhuma revista teve, na
história do cinema, tanta influência quanto a "Cahiers du Cinéma". Da primeira geração de
críticos dessa publicação criada
no início dos anos 50 saiu nada
menos do que a nouvelle vague.
Antes de se tornarem cineastas,
os integrantes desse grupo
-François Truffaut, Jacques Rivette, Jean-Luc Godard, Claude
Chabrol, Eric Rohmer- promoveram a mais radical revisão dos
valores cinematográficos.
O próprio entendimento dessa
arte saiu de cabeça para baixo da
empreitada. Não se suspeitava,
até então, que Howard Hawks ou
Alfred Hitchcock estivessem entre os maiores diretores de todos
os tempos. Para todos os efeitos,
eram apenas bons realizadores de
filmes comerciais.
Até André Bazin -fundador da
revista- às vezes ficava de cabelo
em pé com as audácias dos discípulos. Ao mesmo tempo, defendiam cineastas desprezados (Jean
Renoir, Max Ophuls), propagandeavam alguns novos (Nicholas
Ray, Anthony Mann, Ingmar
Bergman), atacavam nomes inatacáveis (John Ford), polemizavam com o acadêmico realismo
psicológico, conhecido como cinema da "qualidade francesa".
Nos anos 50, os "Cahiers" eram
uma revista tida como de direita.
A herança surrealista e a esquerda
eram representados por "Positif".
Os "Cahiers" mantiveram o vigor e a influência ao longo dos
anos 60, embora a equipe mudasse à medida que os antigos redatores passavam para trás da câmera. Sua primeira grande crise
começou no fim dos 60, com a
violenta guinada à esquerda que
se seguiu a maio de 68.
Essa crise só terminaria no fim
dos 70, com a chegada de outra
equipe, liderada por Serge Daney.
Na década de 80, Daney deixou a
direção e foi para o jornal "Libération", com Louis Skorecki.
Serge Toubiana, outro amigo de
Daney, segurou as pontas até a última reformulação, quando a revista foi comprada pelo "Le Monde", que optou por uma linha
mais popular. Os "Cahiers" sofreram com a mudança: adotaram
um meio-termo esquizofrênico
entre a extrema intelectualização
que a havia caracterizado nas últimas décadas e as revistas de divulgação tipo "Première".
Ao que parece, essa última forma não agradou aos velhos leitores, nem seduziu os fãs de "Première". A idéia das Editions de
l'Etoile, de elevar o crítico Jean-Michel Frodon, do "Le Monde", a
redator-chefe dos "Cahiers", parece jogar uma pá de cal no elo já
tênue entre a tradição da revista e
sua orientação atual.
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