São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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CINEMA/"A LUTA PELA ESPERANÇA"

Diretor que levou o Oscar por "Uma Mente Brilhante" trabalha novamente com Crowe

Howard abraça o realismo em novo filme

ELAINE LIPWORTH
DO "INDEPENDENT"

Ron Howard é um cara legal. "Decência", "honestidade" e "integridade" são palavras freqüentemente empregadas para descrever o diretor de "Apollo 13" e "Uma Mente Brilhante". Mas esses não são valores normalmente associados à criatividade cinematográfica e, talvez devido à sua imagem de "cara legal", o diretor seja acusado de ser narrador competente, mas não inovador.
Howard é escancaradamente populista. Seus filmes têm apelo universal e são sempre ternos. Ao longo de 30 anos de carreira, ele dirigiu comédias como "Uma Sereia em Minha Vida", dramas como "Desaparecidas" e filmes de ação como "O Preço de um Resgate". O seu fracasso foi "Um Sonho Distante", com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman.
Os críticos se queixam de que ele é às vezes sentimental em excesso. Se você menciona essas críticas, Howard abana a cabeça. "A comunidade dos críticos tende a ver tragédias como intrinsecamente mais valiosas. Não tenho problemas com reconhecer abertamente o lado positivo."
"A Luta pela Esperança" pode reverter a imagem de Howard. Baseada na história real do boxeador norte-americano James L. Braddock e sua mulher Mae, o filme é estrelado por Russell Crowe e Renée Zellweger e traz Paul Giamatti como o empresário do boxeador. As críticas iniciais foram excelentes nos EUA. Uma história tradicional e emotiva, o roteiro é material clássico para o estilo de Howard. Mas embora a narrativa seja inspiradora, existe muito realismo na maneira pela qual o diretor exibe a Grande Depressão.
O filme se concentra nas dificuldades da família de Braddock, que perdeu tudo e tem de aceitar favores para sobreviver com a família. Braddock voltou aos ringues para escapar à miséria, recuperando o título mundial. "Os homens se sentiam completamente degradados naquela era", diz Howard. "Muitos deles desabaram sob a pressão. Mas não Braddock. Ele freqüentou as filas para receber pão e sopa. A família mal conseguia sobreviver. Mas conseguiu retomar a carreira, vencer e inspirar o país."
"Eu simpatizo com o personagem de Braddock", diz Howard. "Trata-se realmente da história de um homem que quer tirar sua família da miséria, e o boxe é o único caminho que ele conhece."
Nascido em Oklahoma, Howard começou a trabalhar como ator assim que aprendeu a andar. O pai dele, Rance, era ator de cinema e teatro, e sua mãe, Jean, era atriz. Howard fez seu primeiro filme, "Frontier Woman", aos 18 meses. Quando tinha oito anos, era um nome conhecido em todo o país, interpretando Opie na série de TV "Andy Griffith Show".
Ele estrelou o clássico "Loucuras de Verão", de George Lucas, mas queria mesmo era comandar uma produção. "Não tenho personalidade de ator."
Agora Bryce Dallas Howard, 24, sua filha, está construindo uma carreira de sucesso como atriz - estrelou "A Vila", de M. Night Shyamalan, e "Manderlay", de Lars von Trier. Mas Howard não permitiu que seus filhos trabalhassem como atores até que tivessem idade muito maior do que a dele quando começou. "Ser ator é trabalho para a vida inteira. Ter sido ator infantil pode ser um obstáculo", diz.
Howard dá a Crowe boa parte do crédito por capturar a essência do personagem Braddock. Eles trabalharam juntos em "Uma Mente Brilhante" e são grandes amigos. "Ele é um grande ator, um ator discreto e engraçado, um ator emotivo, um ator físico... tudo isso se soma." Howard sustenta que não estava preocupado com o comportamento tempestuoso do amigo. "Trabalhar com Russell é como filmar em uma ilha tropical. Você sabe que o clima vai mudar diversas vezes ao longo do dia, mas sabe também que a ilha é bonita. Ele tem pavio curto. Mas sempre o abordo usando lógica. Funciona."
"À sua maneira, Tom Hanks é tão intenso quanto Russell. Ele tem uma personalidade fácil, mas se surge um problema, os alarmes disparam tão claramente quanto no de Russell Crowe", diz Howard, que tem Hanks estrelando seu novo filme, "O Código Da Vinci", baseado no best-seller de Dan Brown.


Tradução de Paulo Migliacci


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