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"FOME DE VIVER"
Efemeridade da paixão movimenta cult dos anos 80
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O revival dos anos 80 atinge
finalmente o cinema. O Cinesesc estréia hoje em São Paulo
cópia nova de um clássico da Década Perdida, "Fome de Viver".
Se você conseguir ultrapassar a
crueldade que aquele período fez
com os cabelos e roupas das pessoas, estará diante de um filmaço,
do gênero "vampiro", subgênero
"romance", subdivisão "imortalidade do amor".
Miriam (Catherine Deneuve,
linda, sexy, sedutora aos 40 anos)
é uma vampira-rainha milenar
que, com ajuda do amante atual,
John (David Bowie, contido e menos andrógino), precisa se alimentar de carne humana para
manter a juventude. Até que, por
motivos que revelariam a trama
além do preciso, entra em cena a
médica Sarah (Susan Sarandon,
linda, sexy e sedutora aos 37).
Estará formado o triângulo bissexual dominado por Miriam e do
qual alguém terá de abrir mão.
Em 1983, Tony Scott era um talento vindo da publicidade britânica que se mostrava a Hollywood
pela primeira vez. Depois, conduziria uma obra irregular, cujo
ponto alto é "Amor à Queima-Roupa" (1993), o primeiro script
que Quentin Tarantino conseguiu
vender e que fosse filmado por alguém importante e um dos filmes
mais românticos do cinema.
Em "Fome de Viver", Scott já
mostra um traço que só aprimoraria nos filmes seguintes; o cuidado com a trilha sonora, não só
como ruído de fundo, mas como
um dos atores de cenas-chave. Seria assim, por exemplo, em
"Amor". Quem viu jamais esquecerá o interrogatório conduzido
por Christopher Walken no trailer de Dennis Hopper, ao som do
dueto do ato dois da ópera "Lakmè", de Delibes.
A mesma e belíssima música,
infelizmente banalizada depois
pela indústria publicidade, seria
recorrente em outros filmes de
Tony ou de seu irmão, Ridley, inclusive no próprio "Fome". Neste,
são outras duas as canções mais,
sem trocadilho, tocantes.
A primeira abre o filme, quando
John e Miriam saem à caça de carne humana numa boate que bem
poderia ser o Radar Tantan de São
Paulo dos anos 80 ou o Crepúsculo de Cubatão do Rio, ao som da
gótica "Bela Lugosi Is Dead", tocado por uma das bandas mais interessantes daquela época, Bauhaus. (Que o jovem leitor desculpe o uso da palavra "gótica", que
revela a idade do repórter...)
A segunda é o trio entre John
(cello), Miriam (piano) e a jovem
violinista Alice (Beth Ethlers), que
tocam o "Prelúdio" da "Suíte nš 1
para Solo de Cello" de Bach. É o
momento em que John começa a
sentir os efeitos da maldição passada por sua amante e o espectador antecipa o frio na espinha do
que virá, tanto para ele quanto para a inocente Alice.
"Fome", de certa maneira, complementa "Blade Runner", feito
um ano antes pelo irmão Ridley.
Lá, é a dúvida que move a humanidade (e aparentemente os andróides): "Quando eu vou morrer?". Aqui, é a dúvida que tira o
sono da humanidade (e aparentemente dos vampiros): "Meu amor
durará até este dia?".
Fome de Viver
The Hunger
Direção: Tony Scott
Produção: Reino Unido, 1983
Com: Catherine Deneuve, David Bowie
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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