São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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15º VIDEOBRASIL

Coco Fusco convoca 50 "prisioneiros de guerra" para "escovar" representação norte-americana em SP

Performer quer "limpar" consulado dos EUA

Fernando Moraes/Folha Imagem
Coco Fusco (de botas) e um de seus voluntários simulam a performance na avenida Paulista


ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje à tarde, cerca de 50 prisioneiros de guerra irão limpar com suas escovas de dente a calçada em frente ao Consulado dos Estados Unidos. No comando, estará a "militar" Coco Fusco. Convidada pelo festival Videobrasil, a performer americana traz à cidade seu novo trabalho, "Bare Life Study # 1", no qual investiga as técnicas de interrogatório e punição do Exército dos Estados Unidos. Leia trechos de sua entrevista exclusiva à Folha -em tempo: os "presos" são todos voluntários.

Folha - Você não tem medo da reação do consulado?
Coco Fusco -
Sou uma cidadã americana. Temos direitos e um deles é o de poder falar livremente. Tenho direito de me expressar.

Folha - O que a levou a criar essa performance?
Fusco -
Estou interessada no papel da mulher no Exército, especialmente nas mulheres que fazem interrogatórios. Observando o que ocorreu na guerra no Iraque e no Oriente Médio em geral, nas atrocidades cometidas nas prisões havia muitas mulheres.

Folha - E qual o papel dessas mulheres?
Fusco -
Nas prisões de Guantánamo [base norte-americana em Cuba], as mulheres interrogadoras, por exemplo, usam o sexo. Elas se vestem com lingerie para embaraçar os prisioneiros árabes. Há a história de uma interrogadora que usou sangue de menstruação falso, porque no Islã não é permitido tocar numa mulher menstruada, com a intenção de passar o sangue aqui [aponta para a testa]. Nunca passou pela minha cabeça que elas poderiam ser usadas dessa forma. É uma coisa nova em nossa cultura. Uma idéia diferente do envolvimento das mulheres na guerra.

Folha - Qual o processo para fazer essa obra?
Fusco -
Encontrei um grupo de interrogadores aposentados, que trabalhou para o Exército dos Estados Unidos e que dá cursos para não-militares. Juntei sete mulheres e, na primeira parte, simulamos ser prisioneiros de guerra. Depois, aprendemos técnicas de interrogatório. A idéia era filmar esse processo e verificar como as mulheres reagiam ao treinamento, além de desenvolver os personagens para a performance.

Folha - Onde entra a ação em SP?
Coco Fusco -
Parte da interrogação é a preparação das fontes. Basicamente os interrogadores põem a pessoa em uma situação em que ela fica sem dormir, sem comer e é forçada a fazer várias atividades pesadas para ficar mais vulnerável. Comecei a entender que isso é parte da vida militar. Daí desenvolvi a idéia para a obra.


"Bare Life Study # 1"
Quando:
hoje, às 13h
Onde: Consulado dos Estados Unidos (r. Henri Dunant, 700, Chácara Santo Antônio, SP)



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